A Rapariga no Comboio, o tão aclamado thriller de 2015
Chegado o verão chegam também as leituras de praia. Por esta altura costumo dar preferência a leituras mais leves, por vezes bestsellers internacionais que estão a dar que falar e que recebem um ou dois prémios. Quase como que seguindo um ritual, visito uma livraria online, vejo os tops, leio algumas sinopses e depois procuro as reviews que os meus amigos do Goodreads partilharam sobre aquele livro. Este processo aconteceu outra vez em julho de 2015 e a minha escolha recaiu inevitavelmente no livro .
Este é um daqueles livros que se lê em dois ou três dias. Com cerca de 320 páginas, o livro parece um comboio que parte a um ritmo desenfreado e que avança aos solavancos, ameaçando descarrilar a qualquer momento. A história é contada sobre a perspetiva de três mulheres diferentes que têm algo em comum, apesar de nenhuma delas o saber.
Antes de mais, vou falar um pouco da história. Não se preocupe, não vou fazer grandes spoilers. A personagem principal chama-se Rachel Watson e, tal como tantos outros ingleses, tem de fazer diariamente uma viagem de comboio do subúrbio onde reside para o centro de Londres, onde trabalha. A questão é que Rachel não tem nenhum emprego na grande cidade. Com um grave problema de alcoolismo, a personagem viu-se desempregada após arruinar uma reunião com um cliente da empresa onde trabalhava.
Isto é um facto que a envergonha. A vergonha é tal que, esperando manter a farsa de que “está tudo bem”, Rachel mente à sua colega de casa e finge ir trabalhar todos os dias para manter a mentira viva. Estas viagens de comboio, que acabam por ser absolutamente desnecessárias, são no entanto o ponto alto do seu dia. É que durante o percurso do comboio Rachel passa por duas casas que lhe dizem muito, mesmo junto à paragem de Witney.
A primeira casa ela conhece muito bem, porque era aí que vivia até ter descoberto o caso extraconjugal do marido, com uma mulher chamada Anna. A impossibilidade de engravidar foi a principal razão pelo fim do casamento que, gradualmente, foi caindo aos pedaços. É por essa altura que Rachel se começa a virar para o álcool à procura de conforto.
Mesmo depois do casamento terminar, o ex-marido de Rachel manteve a casa para aí viver ao lado da nova esposa e da filha que o casal teve entretanto. Assim, ao passar pela casa, Rachel procura furtivamente qualquer sinal do casal que tanta infelicidade lhe causou e vestígios da bebé que nunca conseguiu dar ao marido.
Mais à frente existe uma segunda casa, muito semelhante à sua, habitada por um casal que Rachel conhece apenas de vista. Normalmente, quando o comboio passa, Rachel vê o casal – a quem deu os nomes fictícios de Jess e Jason – a tomar o pequeno-almoço no quintal. Mais do que vê-los, Rachel imagina como será a vida delas, certa de que é perfeita e totalmente contrária à sua.
É por isso mesmo que fica chocada, e absolutamente intrigada, quando os jornais começam a noticiar o desaparecimento de uma tal Megan, cuja fotografia corresponde à mulher que ela conhece como Jess… E isto tudo pouco depois de ela ter visto uma coisa estranha no quintal do casal perfeito. Sem se aperceber, Rachel mergulha numa espiral de álcool, obssessão e medo que a põem a questionar – e a nós também – se esteve afinal envolvida no que se passou com a mulher desaparecida.
O que achei mesmo do A Rapariga no Comboio
Na altura em que averiguei livrarias online, um dos pontos que me convenceu a comprar o livro de Paula Hawkins foi uma crítica que apontava o como o livro perfeito para quem tinha gostado de Gone Girl, o livro de Gillian Flynn que foi adaptado ao grande ecrã por David Fincher.
Uma vez que tinha gostado bastante de Gone Girl – que também nos prende e obriga a devorar cada páginas à procura de respostas – o que senti ao ler este livro foi muito diferente. Em Gone Girl, o leitor fica totalmente surpreendido com a revelação que acontece mais ou menos a partir do meio do livro e passa os capítulos seguintes a tentar perceber Porquê?. O mesmo não acontece com A Rapariga no Comboio.
Apesar de só se saber oficialmente quem é o grande responsável por detrás dos acontecimentos do livro nas últimas páginas, já tinha percebido o grande mistério muito antes. A resposta acaba por ser óbvia para o olhar mais atento. Lembro-me que foi logo nos primeiros capítulos que detetei algo que não batia certo e categorizei uma certa personagem como a responsável pelo desaparecimento de Megan. E não é que o meu palpite estava certo?
Todos os outros “suspeitos” não me convenciam. Isto, por si só, faz com que o livro se torne mais previsível e aborrecido. Talvez os motivos e a história de background do assassino/a tornem o momento da revelação mais excitante. Eu, pessoalmente, não achei que o clímax seja merecedor das minhas palmas.
A minha parte favorita foi sem dúvida a evolução dos acontecimentos, que se sucede na primeira parte do livro. A personagem da Rachel, ainda que absolutamente depressiva, foi muito bem conseguida. Conseguimos perceber bem o que se passa dentro da sua cabeça, sentimos o mesmo receio que sente à medida que vai preenchendo o vazio temporal que lhe falta e, acima de tudo, sentimos compaixão. Em certas partes do livro queremos defenda-la perante outras personagens, especialmente Anna, a mulher por quem Rachel foi trocada.
Mas a depressão não é algo que se reserve apenas a Rachel. Todas as personagens são depressivas e complicadas. Não há ninguém que possamos considerar normal. Talvez, excepto, a colega de quarto de Anna que, mesmo assim, é uma das personagens mais irrelevantes da história.
No Goodreads, avaliei este livro com uma pontuação de 4 estrelas que são mais 3,5 do que 4. Mesmo que diga que gostei do livro, talvez não seja o mais indicado para uma leitura de praia. Se quer um livro que se leia rápido e que o absorva, é uma boa escolha. Mas se quer algo que não seja depressivo e cinzento, recomendo a leitura de livros mais animados.
Em 2016 chegará aos cinemas uma adaptação cinematográfica do que contará com a atriz Emily Blunt a representar o papel de Rachel.