Anaïs Nin: as palavras eróticas que lutaram pela sexualidade feminina
Anaïs Nin nasceu numa cidade perto de Paris, no ano de 1903. É filha de Joaquin Nin, compositor cubano educado em Espanha, e de Rosa Culmell y Vigaraud, uma cantora clássica com origens francesas, cubanas e dinamarquesas. O seu nome completo é Angela Anaïs Juana Antolina Rosa Edelmira Nin y Culmell. Destacou-se na literatura com , uma obra que explora a visão feminina da sexualidade.
Com poucos anos de idade, a pequena Anaïs deixou França para viver em Barcelona, juntamente com os dois irmãos. O divórcio dos pais fez com que abandonasse Espanha para ir viver com a mãe para Nova Iorque. Lá estudou até aos 16 anos, idade em que decidiu abandonar a educação clássica para se tornar modelo e bailarina. Por essa altura, já tinha praticamente esquecido o espanhol, mantendo-se, todavia, fluente em francês e inglês.
O casamento com o banqueiro e cineasta Hugh Parker Guiler aconteceu em 1923 na cidade de Havana (Cuba). Após o regresso a Paris, Anaïs Nin começou a escrever e iniciou um percurso marcante como autora. Em simultâneo, ocupava o tempo com aulas de flamengo. O primeiro livro, D. H. Lawrence: An Unprofessional Study foi lançado em 1932 e julga-se que terá sido escrito em apenas 16 dias.
O contexto de II Guerra Mundial levou Anaïs Nin a regressar para Nova Iorque. Para que os seus livros não fossem confiscados, a escritora enviou-os para Frances Steloff da Gotham Book Mart. Apesar das publicações, foram os diários pessoais que distinguiram a escritora. Durante quatro décadas, Nin foi descrevendo pensamentos e experiências. As primeiras páginas foram escritas quando tinha apenas 12 anos.
E são esses mesmos diários que sugerem um romance com o também escritor Henry Miller, homem com quem terá partilhado uma vida boémia. Por oposição, no primeiro e segundo volume dos seus diários não há qualquer referência ao marido, apesar de se deixar claro que a autora era casada. Isto deve-se também ao facto de Guiler ter pedido para não ser referenciado.
Da vida amorosa de Anaïs Nin fez também parte o ator Rupert Pole. Os dois conheceram-se num elevador a caminho de uma festa em Manhattan (EUA). Depois de uma série de encontros, aconteceu o casamento na vila de Quartzsite, Arizona. O curioso é que durante esse período, Hugh Parker Guiler manteve-se em Nova Iorque sem saber deste segundo casamento da esposa! Em 1966, diversos problemas fiscais fizeram com a união de Nin e Pole tivesse de ser anulada. (Por isso mesmo, Hugh Parker Guiler só viria a saber do segundo matrimónio da mulher depois da morte da escritora, em 1977). Mesmo não estando oficialmente casados, Nin continuou a viver com Pole.
O contributo de Anäis Nin para a sexualidade feminina
Nos vários diários que escreveu, Anaïs conta os episódios da sua vida, falando sobre as relações que teve e da sua própria visão da sexualidade. Considerada como um dos principais nomes da literatura erótica, a escritora explora o sexo não só do ponto de vista físico, como também psicológico.
Além de Henry Miller, a escritora fez amizades com Antonin Artaud, Edmund Wilson, Gore Vidal, James Agee, James Leo Herlihy e Lawrence Durrell. Apesar das várias relações, foi Miller quem mais contribuiu para a definição de Nin como mulher e como escritora. Em 1986 foi publicado Henry and June: From the Unexpurgated Diary of Anaïs Nin, um livro que fala do relacionamento que existia entre os dois e onde se incluem referências à esposa de Henry Miller. A obra inspirou em 1990 o famoso filme Henry & June, dirigido por Philip Kaufman, em que a personagem de Anaïs Nin foi interpretada pela atriz portuguesa Maria de Medeiros.
Décadas antes, ainda no período em que estava em Paris, Anaïs Nin publicou House Incest, o seu primeiro livro de ficção. Apesar da história contada não ser totalmente real, julga-se que Anaïs terá mantido uma relação incestuosa com o pai. Alguns consideram até que a decisão terá sido influenciada por um dos terapeutas, como forma de ultrapassar o trauma de ter crescido longe do pai.
A exploração de temáticas polémicas fez com que o nome de Anaïs Nin se tornasse tabu durante décadas. O reconhecimento global chegou por volta dos anos 60, altura em que as suas obras sexualmente desinibidas se tornaram uma bandeira do movimento feminista. Durante esse período, a escritora deu palestras e foi condecorada com vários prémios, falecendo em 1977 em Los Angeles (EUA).
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