Anna Karenina: o melhor romance de todos os tempos
Leo Tolstoy é e será para sempre um dos maiores autores de todos os tempos. Além de Guerra e Paz, é bem recordado na história da literatura pela a sua obra Anna Karenina, um dos trabalhos mais emblemáticos do Realismo e considerado frequentemente como o melhor romance de todos os tempos.
Julgo que foi por essa mesma razão que, pouco depois de fazer 20 anos, decidi enfrentar finalmente as 967 páginas de Anna Karenina, certo de que seria uma dor de cabeça e, claro está, uma dor de braço também: o livro é mesmo um calhamaço, com letras pequeninas e por vezes difíceis de ler.
Desde já fica o alerta: é preciso ter paciência para ler Anna Karenina, apesar da leitura não ser tão difícil como se espera. Não espere ler o livro numa semana ou sequer um mês. A leitura é longa e o enredo extenso. O que lhe posso garantir é que não há muitas palavras complicadas e as frases não precisam de ser lidas e relidas vezes e vezes sem conta até que perceba o que querem dizer.
O registo de Tolstoy é claro e direto. Embora descritivo, o autor realista não se prolonga por páginas e páginas a falar da decoração de uma sala. Outra coisa que ajuda o leitor é o facto de do livro estar dividido em 8 partes e, cada uma delas, se encontrar subdividida em dezenas de capítulos curtos. Alguns capítulos têm uma página. O mais extenso não deve ultrapassar as vinte.
A par e par com o enredo, encontramos profundas reflexões sobre a passagem do homem pela terra, o amor e o ódio, o ciúme e a obsessão, a tentação e a repressão, religião e espiritualalidade, política e sociedade, o nascimento e a morte. De tudo um pouco fala este livro, tendo como fundo a belíssima Rússia imperial e cidades como Moscovo, St. Petersburgo e até mesmo o vasto e extenso território dos Urais. Dito isto, falo agora um pouco sobre a história.
Anna Karenina: a mulher que quebra as convenções
A história de Anna Karenina é bem conhecida de todos, mesmo daqueles que nunca leram o livro ou viram uma adaptação cinematográfica da história. Lembro-me que sempre associei esta figura literária a temas como escândalo e adultério. E lá está, não sei quem me incutiu tais ideias na cabeça, só sei que estavam lá muito antes de abrir o livro.
A personagem principal, Anna Karenina, é casada com um importante oficial da Rússia e vive entre os salões da aristocracia. Em pleno século XIX, esta elite russa está ainda a algumas décadas de distância da Revolução que mudou para sempre o país. As personagens vivem por isso rodeadas de luxos e glamour, mesmo que a grande maioria da nação continue num estado de pobreza profunda. Mas há algo de decadente entre a própria aristocracia, algo que parece não estar a funcionar e que desgraça a vida de Anna Karenina.
Presa a um casamento frívolo, que a obriga a ser devota a um homem mais velho com quem não escolheu casar, Anna escolhe seguir o coração, desafiando as regras que a sociedade impôs para aquilo que está certo e errado. Entre bailes e estações de comboio, apaixona-se pelo jovem Conde Vronsky e vive a grande paixão que o casamento nunca lhe permitiu. Por norma, os leitores são os únicos a simpatizar com Anna e a perdoar este seu crime. Ao longo das páginas do livro, são poucas as personagens que não condenam Anna Karenina pelo que fez.
Este é o enredo principal do livro. De forma quase satírica, acompanhamos a dura queda de Anna Karenina e as suas interações com as ilustres figuras que a rodeiam. Apanhada num terrível dilema, vê-se mesmo impedida de ver o filho legítimo que teve do casamento com Karenin, tudo em nome do amor que nutre pelo seu amante.
Anna Karenina: as outras histórias
Ironicamente, é por causa de um caso de adultério que Anna e Vronsky se encontram pela primeira vez.
“Todas as famílias felizes são parecidas, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, é esta a frase de abertura do romance, sucedida de imediato pela apresentação da crise familiar que acontece na casa do irmão de Anna. O que se passa é o seguinte: o irmão de Anna Karenina teve um caso com a preceptora francesa dos filhos e a mulher não lhe fala desde então, forçando Anna a viajar até St. Petersburgo para salvar o casamento. O irónico é que pela altura em que Anna intervém já se encontra a pensar no Conde Vronsky, o jovem com quem se cruzou na estação ferroviária ao chegar à cidade.
O enredo é, porém, mais denso do que parece. Vronksy encontra-se por essa altura a cortejar a Princesa Kitty, uma jovem rapariguinha cheia de sonhos e ambições e que se encontra absolutamente apaixonada pelo jovem Vronsky. O amor é tal que chega mesmo a recusar o pedido de casamento de Levin, um outro jovem apaixonado por Kitty e que sofre um terrível desgosto ao ser rejeitado e descobrir que a mulher com quem imaginou os seus dias ficará nas mãos de outro homem.
A questão é que os planos de Kitty ficam destruídos quando rebenta o escândalo entre Vronsky e Anna. Os sonhos são desfeitos e a rapariguinha adoece, doente de amor. Assistimos então aos seus amores e desamores, à crise do casamento do irmão de Anna, à paixão da própria Anna e ao sofrimento que a atormenta por ser impedida de ver o filho que teve com o marido. O enredo acaba por culminar num momento trágico e catártico, que deixa todos boquiabertos.
O próprio Tolstoy provocou escândalo, como era seu hábito, por abordar temas tão controversos como o adultério.
Ainda não me perdoo por não ter lido Anna Karenina, mas confesso, os clássicos russos sempre me assustaram um pouco e isso acaba voltando as minhas atenções a literatura inglesa (Charles Dickens, principalmente). No entanto, esse é um erro que estou querendo reparar. 😀
Olá Isabelle!
Obrigado pelo comentário. Espero mesmo que leia Anna Karenina e que goste tanto como eu gostei. E, assim que terminar o livro, partilhe connosco o que achou da leitura.
Cumprimentos
Olha, Eduardo, agradeci bastante de você disponibilizar o seu precioso tempo para nos permitir ler o enredo do romance! O que devo fazer para ler o livro completo?
Olá Miguel! Tudo depende do seu ritmo de leitura. Se está assustado com o tamanho, fique a saber que o livro está dividido em 6 partes. Se se cansar da história facilmente, sugiro que faça pausas ao terminar uma parte e leia a obra como se fossem, na verdade, 6 livros.
A mensagem do livro não é quebra de convenções. A Karenina não é uma heroína. Tampouco é um retrato moralista mas uma explanação sobre temas de hipocrisia, inveja, fé, fidelidade, família, casamento, sociedade, ] desejo carnal, e um bucado do contraste da vida no campo e a vida na cidade. E a mensagem que ninguém pode fazer felicidade sobre a dor de outro.
Minha experiência com a literatura russa foia apenas um livro, trata-se de Arquipélago Gulag, que considero o melhor livro que li até hoje. A experiência foi formidável, inesquecível e a leitura prendeu a minha atenção do início ao fim. Não li ainda nenhum romance russo, espero portanto, fazê-lo em breve e o enredo descrito por Eduardo Aranha estimulou ainda mais o meu desejo de ampliar a minha leitura dos renomados autores russos, como Tolstoi e Dostoievsky.
Desde sempre gostei de Dostoievski. Há alguns anos comecei a ler Ana Karenina e parei. Achei confuso, não entendia a história, chaaaaatooo.
Adoro Gógol (Almas Mortas é muito engraçado). Taras Bulba é empolgante.
Estou criando coragem para retomar Ana Karenina. No Wikipedia tem a árvore genealógica dos personagens do livro. Isso deve ajudar na leitura.
Li Ana Karenina na adolescência; eu era uma leitora voraz, lia o que me caísse em mãos. Tinha em casa uma coleção de romances “clássicos”, e Ana Karenina era um deles. Amei o livro, apesar de não ter condições, na época, de entender o drama que ele narrava. Há pouco tempo li “A elegância do ouriço” (Muriel Barbery), que cita Tolstoi e sua obra prima, e tive vontade de ler novamente o romance. Ler, agora, um comentário sobre o livro é uma prova de que devo voltar à Rússia do século XIX.