Arcádia Lusitana: uma reforma às letras depois do Barroco
Neste post, que encerra um especial do Mundo de Livros dedicado à literatura portuguesa, falamos da importância que a academia Arcádia Lusitana teve nas letras após a fase do barroco.
Entre os sinais que anunciam a dissolução da literatura barroca podemos contar a irrupção do realismo plebeu quando virado contra o culto do estilo afectado. É o fim das paródias do gongorismo e sobretudo a crítica, mesmo inconsequente, mesmo traída, que um D. Francisco Manuel de Melo, um António José da Silva, um Frei Lucas de Santa Catarina, um Bluteau e outros fazem aos exageros formalistas.
Assistimos também desde o século XVII a uma notável floração de obras sobre matéria linguística e estilística, ou discutindo normas e padrões literários, nomeadamente as de comentário, crítica ou apologia de Os Lusíadas.
De um excesso de fantasia descabelada vai-se cair num excesso de regulamentação racional, que em a arte denuncia o domínio da expressão literária por juristas, por filhos da burguesia feitos por desembargadores, ou funcionários do “despotismo esclarecido” , a legislar sistematicamente para o Parnaso. Todo este trabalho foi especialmente estimulado pela academia Arcádia Lusitana, fundada em Portugal em 1756, durante o governo de Marquês de Pombal (na imagem principal).
Arcádia Lusitana: uma literatura com menos hipérboles
Certas manifestações deste racionalismo geométrico e mecanicista em relação ao gosto literário fazem-se sentir em diversas obras como: Antídoto da Língua, Ortografia, Enfermidades da Língua Portuguesa, entre outros.
Na Academia dos Generosos, nas Conferências discretas e eruditas de 1696, na Academia Portuguesa de 1717, e ainda noutras agremiações semelhantes, sobretudo na Academia dos Ocultos de 1745, assinala-se o progressivo reforço do espírito de crítica racionalista em relação à arte literária.
O grupo dos Estrangeirados está estritamente ligado a tais organismos, em que a influência do barroco espanhol principia a recuar perante influências vindas do classicismo francês e do arcadismo italiano, as quais depois, através da Arcádia Lusitana, abrirão sinuosos caminhos para o realismo ou o sentimentalismo.
Nestes primeiros passos da literatura arcádia entre nós não deve minimizar-se a influência, já sensível, de Benito Feijóo, sobretudo de Luzán, e até de Pope e Addison. O modelo próximo da Arcádia Lusitana foi a Academia de Roma, fundada em 1690 para reagir criticamente contra o maneirismo e restaurar o gosto da nobre simplicidade, e da qual foram eleitos membros D. João V, o conde da Ericeira, Francisco Leitão Ferreira, Verney, entre outros.