As casas famosas de 7 escritores portugueses
Quantas vezes se deixou levar por um livro? Percorrer os lugares descritos pelo autor e sentir no ar os mesmos odores familiares que as personagens sentem? Construir ao detalhe na sua cabeça a sala ou jardim onde tudo acontece? Há escritores que nos fazem sentir melhor do que outros aquilo que as personagens vivem, veem e sentem. E, verdade seja dita, as próprias experiências das personagens têm de vir de algum lado.
Que o diga Eça de Queirós, por exemplo. Estudiosos da sua obra já confirmaram que muitos dos cenários do livro A Cidade e as Serras têm como fundo o Douro e que a casa na cidade serrana de Tormes, habitada pelo afrancesado Jacinto, é gémea próxima daquela que o autor habitou.
Neste post, pegamos por isso no mapa e fomos por Portugal fora para revisitar o local onde alguns dos nossos escritores favoritos escreveram, viveram e alguns até mesmo morreram. Entre connosco nas casas famosas de alguns dos escritores portugueses mais emblemáticos da literatura!
Casas famosas de escritores bem conhecidos
1 – A casa de Eça de Queirós
Começamos com Eça e começamos muito bem. O autor realista português é conhecido pelos livros , e . Viveu entre Lisboa e Paris durante a maior parte da sua vida mas os últimos anos foram passados longe do frenesim das capitais.
Por mero acaso, quando visitou Baião, no Douro, para resolver uma questão de heranças, deparou-se com uma casinha deprimente, com três peças de mobiliário e totalmente por reabilitar. Ficava muito longe do frenesim a que o escritor estava habituado: socalcos, vinhas e pinheiros altos nada tinham a ver com as ruas lisboetas ou parisienses. Ainda assim, era o lugar perfeito para se estabelecer ao lado da esposa (Eça casou tarde, com 40 anos) e para escrever algumas das suas últimas obras. Hoje, a casa abriga a Fundação com o nome do autor e está aberto como museu, homenageando a sua vida e obra literária.
2 – A casa de Eugénio de Andrade
O poeta que se mudou para o Porto em 1950 por questões de trabalho acabou mais tarde por aceitar a Invicta como sua cidade e, verdade seja dita, a cidade acolheu-o de igual forma. Hoje, recordamos a casa no Passeio Alegre (na imagem acima), perto da Foz do Douro, no Porto, onde viveu durante os últimos anos da sua vida. Infelizmente, não conseguimos encontrar para este artigo uma fotografia da casa em questão.
Isto porque, mesmo tendo sido este o espaço onde onde Andrade deu forma a alguns dos seus melhores poemas, a casa e a Fundação Eugénio de Andrade foram alvo recente de algumas polémicas. Após a extinção da Fundação, em 2011, todo o espólio foi entregue à Câmara e, até ao primeiro semestre de 2015, ainda nada tinha sido feito para que a casa reabrisse portas ao público.
3 – A casa de Fernando Pessoa
Entre 1920 e 1935, Fernando Pessoa partilhou uma casa no Campo de Ourique, Lisboa, com Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Bernardo Soares e uma série de outros amigos que eram, na verdade, apenas o seu lado criativo a falar mais alto. Foi entre essas paredes que a sua faceta Alberto Caeiro terá, uma noite, ficado de tal forma inspirado que, em pé, numa cómoda, escreveu os cinquenta poemas que fazem parte de O Guardador de Rebanhos.
Hoje, a Casa Fernando Pessoa abre portas e mostra alguns objetos pessoais da vida do escritor: a sua máquina de escrever, os emblemáticos óculos e alguns blocos de apontamentos totalmente escrevinhados. A sala multimédia, pronta para receber qualquer um, disponibiliza a biblioteca particular de Pessoa, disponível para consulta online.
4 – A casa de José Saramago
Ironicamente, – o único Prémio Nobel da Literatura de nacionalidade portuguesa – escolheu as Ilhas Canárias para viver os seus últimos 18 anos, ao lado da esposa Pilar Del Río. Foi aí que, juntos, construíram a casa que Saramago veio um dia descrever como ‘uma casa feita de livros’.
Atualmente, este é um espaço que presta homenagem ao legado e trabalho de Saramago, o autor de e O . Na casa, podemos ver o escritório onde Saramago criou e escreveu as suas histórias, a sala com vista para o mar onde passava os momentos de descanso e ainda a biblioteca que não foi criada para acolher livros mas sim pessoas. Para um roteiro virtual pela casa, aconselhamos que entre neste link.
5 – A casa de Virgílio Ferreira
Os que leram os livros de recordam com certeza o palacete do Senhor Ximenes de Signo Sinal, as casas Queimadas e a Casa de Trás de . Todas estas casas foram inspiradas por uma outra, normalmente relembrada como a casa amarela. Ao regressarem do Canadá, os pais de Vergílio Ferreira mandaram construir uma vivenda com quintal, de paredes amarelas, a que deram o nome de Vila Josephine.
Situada em Melo, Gouveia, foi para esta casa que Vergílio Ferreira se mudou aos 13 anos. O breve período que passou nesta casa influenciou profundamente a sua obra, as vistas da varanda virada paras as montanhas, para as ruínas do Paço de Melo, entre outros.
6 – A cela de Camilo Castelo Branco
Embora não seja uma casa, a Cadeia da Relação do Porto foi o lar do escritor Camilo Castelo Branco durante dois anos, após ter sido preso por ter raptado e fugido com uma mulher casada, Ana Plácido. Foi na sua detenção que escreveu o livro e a sua obra mais célebre, considerada ainda hoje como um dos maiores clássicos da literatura portuguesa, . Atualmente, a Cadeia da Relação já não serve como prisão mas sim como Centro Português da Fotografia. Ainda assim, as portas da cela onde o escritor foi mantido permanecem abertas para quem quiser prestar uma visita.
7 – A Casa de Sophia de Mello Breyner Andresen
Situada no Jardim Botânico do Porto, e nomeada em homenagem a uma das maiores poetisas portuguesas do século XX, a Casa de Sophia de Mello Breyner Andresen foi o espaço onde a poetisa tantas vezes brincou durante a sua infância e que é tantas vezes descrita na sua obra.
Para falar da casa, não há ninguém melhor do que a própria , tal como escreveu em resposta a uma carta de Miguel Serras Pereira:
“A casa onde vivi no Porto, em criança, foi sobretudo a casa do Campo Alegre. O jardim foi cortado pela ponte. Arrancaram os plátanos. A casa ainda existe, mas muito desfigurada. O espaço da cozinha era o quarto mais escuro. Tudo era negro de carvão do fogão a lenha: havia pouca luz, e era uma divisão virada a norte. Toda a casa dava uma grande impressão de claridade, excepto precisamente a cozinha.”
Hoje, a casa já não está ‘desfigurada’ e à ponte que construíram junto às margens do Douro apareceram mais algumas, mas a Casa continua lá, agora com as suas paredes pintadas de vermelho, entre flores e jardins, honrando a cultura e a arte.