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Chamado do Cuco: Rowling não precisa de magia para fazer um policial

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Chamado do Cuco: Rowling não precisa de magia para fazer um policial

by Eduardo Aranha

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Estamos em 2013 quando um tal de Robert Galbraith lança o seu primeiro livro Chamado do Cuco (na versão brasileira) ou (na versão portuguesa), iniciando assim uma saga policial situada em Londres. Tendo como personagem principal um gigantesco mas bem parecido detetive, Cormoran Strike – que continuo a ver como uma espécie de Sherlock Holmes moderno e mais carrancudo – o livro tornou-se um bestseller alguns meses após chegar às estantes.

Na altura do lançamento, as críticas foram boas e as vendas do livro chegaram a atingir os milhares. Ainda assim, nada previa que numa questão de horas o livro se tornasse no mais vendido da Amazon. Sim, em horas venderam-se dezenas de milhares de um único livro. O dia específico em que isto aconteceu foi 13 de julho de 2013. E, como já deve estar a suspeitar, este enorme volume de vendas teve um motivo.

O que se passou afinal? Basicamente, o jornal britânico The Sunday Times anunciou que o misterioso Robert Galbraith era afinal o pseudónimo secreto de J. K. Rowling, a célebre autora de Harry Potter, o rapaz feiticeiro que inspirou uma geração.

Desiludida com a revelação tão precoce, J.K. Rowling colocou uma ação judicial ao gabinete de advocacia que deixou escapar a informação e confessou, mais tarde, que lamentava que o disfarce de Robert Galbraith tivesse caído tão cedo. A experiência de escrever sem a pressão da fama estava a ser libertadora, conforme confessou em entrevistas.

Eu, tal como tantos outros, só descobri o livro quando a revelação foi feita. Uma vez que sou fã de Harry Potter e de todo o trabalho de Rowling, já tinha lido   – o primeiro livro adulto de J. K. Rowling. Assim, não precisava de ler críticas ao livro para saber se o devia comprar. Não tarda nada, Chamado do Cuco já fazia parte da minha estante… mesmo que só o tenha lido alguns meses depois.

Chamado do Cuco: o protagonista deve ser sempre o protagonista

Se está à espera de regressar ao mundo de Hogwarts, desista da ideia. O mundo mágico e inocente que nos recebeu em Harry Potter desapareceu. J. K. Rowling decidiu afastar-se do registo a que nos habituou e escreve agora sobre o mundo real.

Em Uma Morte Súbita a autora queimou de vez a ponte com Harry Potter, recorrendo a palavrões, sexo e a um dramatismo cruo e irónico. Pela sua ousadia, foi criticada por muitos fãs. No meu caso, não posso dizer que tenha adorado o livro, mas também não o odiei. Foi diferente e mais telenovela, se assim o posso dizer.

O mesmo não acontece com . Sim, os palavrões e o sexo também estão lá, mas a história de Strike não é dramática como o desfecho que nos foi dado no primerio livro adulto da autora. Londres é o palco de uma história marcada por intrigas, suspense e um twist que ninguém esperava. J. K. Rowling guarda a varinha e a vassoura e pega na lupa para se juntar a nomes como Arthur Conan Doyle e Agatha Christie.

A história deste policial começa com o clique de máquinas fotográficas, uma praga que tem atormentado a própria Rowling desde que alcançou a fama. Os jornalistas reúnem-se numa rua em Mayfair, onde uma famosa modelo, Lula Landry, se atirou da varanda do seu apartamento em Londres. Tudo aponta que terá sido suicídio, mas o irmão de Lula Landry desconfia que possa existir algo mais por detrás daquela morte inesperada.

Cormoran Strike é contratado para investigar o caso e, à boa moda do policial inglês, somos conduzidos ao longo de uma série de entrevistas, conhecemos os suspeitos – o namorado de Lula Landry, uma misteriosa rapariga que ela ajuda monetariamente e uma modelo que supostamente seria a sua melhor amiga – e deduzimos por nós mesmos os motivos que podem ter levado cada suspeito a cometer o crime. Eventualmente, damos por nós presos ao livro, a saltar de capítulo em capítulo, a ver perguntas ser respondidas para dar lugar a novas perguntas, a excluir suspeitos e a encontrar outros, até ao grande momento em que a grande revelação é feita.

Mas há mais em . Nos policiais, estamos habituados a seguir um detetive que tem de resolver um caso. Esta é sempre a premissa destas histórias. Em sagas como Poirot e Sherlock Holmes, a história baseia-se mais no caso do que na personagem comum a todos os livros. Rowling decide mudar um bocadinho esta tendência,  dando a Cormoran Strike atenção como a que dá ás personagens que estão associadas ao mistério que marca o livro.

Após anos de uma relação amorosa complicada, Cormoran põe fim a um amor que durava desde a universidade e vê-se de súbito confrontado com grandes mudanças. A situação torna-se tão complicada que se vê forçado a dormir no mesmo escritório onde recebe os seus clientes. Sem uma perna, que perdeu durante a guerra, conhecemos mais sobre o seu passado e as dores que o velho ferimento lhe provoca. E mais: o detetive, sendo filho de um famoso artista de rock, é perseguido por uma sombra de um pai que nunca quis reconhecer o seu bastardo.

E por outro lado temos Robin, a assistente de Cormoran, que começa a trabalhar no mesmo dia em que o detetive recebe o caso de Lula Landry. A passo e passo, assistimos à transformação de Robin que começa a enfrentar o noivo e aquilo em que sempre acreditou para mostrar a Strike que tem todo o potencial para o ajudar a resolver casos.

Um bom começo para uma saga que já conta com a sequela e que deverá contar ainda com pelo menos mais 5 livros, perfazendo um total de sete, algo que só me deixa a pensar que Robert Galbraith e J. K. Rowling têm afinal algo a uni-los: escreverem sagas compostas por 7 livros.


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