Clarice Lispector: a escritora ucraniana que se assumia como brasileira
Estamos no dia 10 de dezembro de 1920 quando nasce Chaya Pinkhasovna Lispector, em Chechelnyk, na Ucrânia. Por muito estranho que possa parecer este nome – especialmente se já identificou a personalidade de quem vamos falar neste post – fique então a saber que era este o verdadeiro nome da jornalista e escritora brasileira Clarice Lispector.
Nascida no seio de uma família judaica ucraniana, Clarice viu a sua vida transformada desde muito cedo pela perseguição aos judeus. Os pais, numa tentativa de fugirem da Ucrânia antes de serem vítimas da perseguição aos judeus, conseguiram emigrar de forma ilegal para Praga e daí para o Brasil, onde tinham já alguns parentes a viver. Por esta altura, Chaya tinha pouco mais de um ano de idade.
Chegada ao Brasil em condições muito precárias, a família altera os nomes russos para nomes em língua portuguesa. O pai, Pinkhas, passou a chamar-se Pedro; a mãe, Mania, recebeu o nome de Marieta; a irmã Leah foi registada como Elisa; Charya, por sua vez, tornou-se Clarice. Apenas a sua irmã Tania manteve o mesmo nome com que deixou a Ucrânia.
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Clarice Lispector: a vida no Brasil
A família instalou-se então na região de Maceió, no Brasil, onde, durante alguns anos, continuou a viver debaixo de condições precárias e com diferentes dificuldades económicas. O pai, numa tentativa de sustentar a família, dava aulas de Hebraico e fazia revenda de roupas usadas. Só conseguiu melhorar a sua situação quando se juntou ao cunhado para fabricar sabão, ofício que já praticava na Ucrânia.
Entretanto, Clarice começa os seus estudos e desde cedo se revela o talento para a leitura e escrita. Em 1930, quando tinha apenas 10 anos, escreveu uma peça de teatro com o título Pobre menina rica e no ano seguinte começa a enviar contos infantis para um jornal local de Pernambuco. Estes textos, no entanto, não foram publicados porque, conforme explicou Clarice Lispector anos mais tarde, “eram contos sem fadas, sem piratas” ao contrário dos textos enviados por outras crianças.
Em 1930, após adoecer, a mãe de Clarice morreu, obrigando a família a iniciar um novo capítulo das suas vidas. Foi nesta altura que a jovem Clarice Lispector se começou a virar para a composição de música e compôs a sua primeira peça para piano em homenagem à mãe. Três anos mais tarde, já com 13 anos, decide que quer ser escritora.
Clarice Lispector: um nome que marcou a literatura
Chegado a hora de prosseguir com os seus estudos, envereda pelo Direito e entrou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, conhecida como Universidade do Brasil. No entanto, como o amor pela literatura falava mais alto, começou a trabalhar também como tradutora, escritora, jornalista, contista e ensaísta. A sua carreira definiu-se de tal forma pelas artes e letras que hoje é relembrada como uma das figuras mais influentes da literatura brasileira e do modernismo.
As suas principais obras marcam cada período da sua carreira. O seu livro Perto do coração selvagem foi, mais do que uma estreia, aplaudido pela crítica e comparado a grandes autores europeus como Virginia Woolf e Marcel Proust. Seguem-se outros títulos, como Laços de família, A paixão segundo G.H., A hora da estrela e Um sopro de vida.
Infelizmente, a autora morreu muito cedo, vítima de cancro de ovário, em 1977. Deixou dois filhos e uma vasta obra literária composta de romances, novelas, contos e crônicas.
Em abril de 2016, a editora brasileira Rocco vai lançar uma coletânea de 85 contos escritos por Clarice Lispector. O livro, com o título “Todos os contos”, vai contar com um prefácio e organização de Benjamin Moser, o biógrafo norte-americano da autora e jornalista. Lançado em 2015 em inglês, este mesmo livro conseguiu atingir a lista dos “100 livros notáveis de 2015” do The New York Times, na categoria de Ficção e Poesia.
Interessantíssimo, nem eu sabia de certos detalhes da vida de Clarice. Talvez por ser de uma família de estrangeiros, a sua atenção para a linguagem verbal tenha sido despertada mais cedo… mas só isso não explica o fenômeno, é claro.