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Daniil Granin: o russo que não teve medo de fazer relatos honestos

Daniil Granin

Daniil Granin: o russo que não teve medo de fazer relatos honestos

by Eduardo Aranha

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Há escritores menos conhecidos, mas ainda assim com trabalhos magnânimos, cujas obras devem ser divulgadas para que não caiam no esquecimento. Ao escrever sobre a vida do russo Daniil Granin, que faleceu no passado dia 4 de julho, percebi que este nome da literatura que quase celebrou um século de vida não merece de forma alguma ser esquecido.

Nascido no dia 1 de janeiro de 1919, Granin (cujo verdadeiro apelido era German) nasceu numa povoação da província de Kursk, na parte ocidental da Rússia, mas a sua vida e a sua obra são indissociáveis de São Petersburgo, cidade da qual chegou a ser um símbolo, por encarnar toda a sua memória histórica e as suas tragédias, no século XX, segundo o historiador russo Daniil Kotsiubinski, natural da antiga capital russa.

Ao iniciar os seus estudos formou-se em engenharia, profissão que acabou por ocupar grande parte da sua vida. No entanto, em 1954 publica o seu primeiro romance. Nesta sua primeira obra, com o título Those Who Seek – Aqueles Que Procuram – narra-nos as lutas de um cientista contra a burocracia para desenvolver as suas investigações.

Esta obra cativou os leitores soviéticos e trouxe fama a Granin, que escreveu, posteriormente, vários outros romances, que foram adaptados ao cinema, com argumentos feitos pelo próprio autor.

Daniil Granin: o combate à ideologia Nazi

Daniil Granin combateu como voluntário nas fileiras do exército soviético, na Segunda Guerra Mundial, e foi condecorado com a ordem da Estrela Vermelha. Entre 1977 e 1981, escreveu, ao lado de Ales Adamóvich, “Blokadnaya kniga” (“O livro do bloqueio”), uma crónica documental do cerco nazi a Leninegrado (atual São Petersburgo), durante a II Guerra Mundial.

O livro contém terríveis depoimentos, baseados em recordações e diários de sobreviventes do cerco nazi à cidade, que durou 900 dias, perto de três anos, a partir de setembro de 1941. Proibido inicialmente, devido à oposição exercida pelos hierarcas comunistas da cidade, o livro foi publicado censurado, em 1977, e só em 1984 foi editada a versão completa.

Este trabalho de Granin mudou a narrativa oficial, triunfalista e superficial, do sucedido, devido aos relatos humanos, de mortos e sobreviventes, sem poupar as descrições da fome e das experiências de canibalismo, durante o cerco.

A técnica documental de “Blokadnáya Kniga” teve grande influência sobre a escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, Prémio Nobel da Literatura 2016, que reconhece Granin e Adamovich como seus mestres.

O escritor russo foi galardoado com as distinções máximas soviéticas e russas, e foi declarado em 2005 cidadão ilustre de São Petersburgo. “Daniil Granin deixou-nos relatos honestos sobre o homem e a sua época. Escreveu sobre coisas que doem recordar, mas que são impossíveis de esquecer”, escreveu no Facebook o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvédev.

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