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Decamerão, “A comédia do sexo”: o livro medieval que deu início a uma nova era na literatura

Decamerão, “A comédia do sexo”: o livro medieval que deu início a uma nova era na literatura

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Você já ouviu falar no livro Decamerão – ou Decameron – de Giovani Boccaccio? Trata-se de um clássico da literatura, escrito entre 1348 e 1353, que simplesmente marcou o fim da moral medieval espiritualizada e o começo do realismo na literatura. O realismo viria a culminar com o humanismo alguns séculos mais tarde.

Vamos conhecer este livro, que expõe a natureza humana com crueza e perspicácia?

 

Uma breve introdução ao livro Decamerão

Decamerão foi publicado com o subtítulo de Príncipe Galeotto e expressa uma turbulenta época que é o fim da Idade Média. Seu autor, Giovani Boccaccio, era poeta e cristão, fascinado pela obra “A comédia” de Dante Aligheri, à qual renomeou “A divina comédia”. Boccaccio escreveu uma das primeiras biografias de Dante.

Enquanto Boccaccio escrevia Decamerão a Europa se encontrava devastada. O continente agonizava diante das mazelas da Peste Negra – ela teria chegado a matar um terço da Europa, além de boa parte da Ásia, vinda de navios mercantes chineses, dentro dos intestinos das pulgas dos ratos. Para muitos era o Anticristo, para outros, uma conspiração dos judeus – sempre eles.

O livro Decamerão tem como cenário e principal tema o terror da Peste Negra. Tornou-se inspiração para diversos autores posteriores, como Martinho Lutero, Shakespeare, Antonio Vivaldi, Molière e outros.

 

O que tem no Decamerão?

Dez jovens – sete moças, entre 18 e 28 anos, e três rapazes – fogem das cidades dominadas pela epidemia da Peste Negra, isolando-se em uma casa de campo. Eles escolhem um chefe para o grupo a cada dia. Pampineia, a mais velha das mulheres, é a primeira mandatária.

 

…o processo de escolha será o seguinte: quando se vier aproximando a hora do surgimento de Vênus, no céu, à tarde, o chefe será, à vez de cada um, escolhido por aquele, ou aquela, que estiver comandando durante o dia.

 

Como as obras da idade medieval em geral, Decamerão tem material sobre numerologia e misticismo. Acredita-se, por exemplo, que as Sete Moças representem as Quatro Virtudes Cardinais – Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança – e as Três Virtudes Teologais – Fé, Esperança e Caridade. Os três homens significariam a divisão da alma em três partes: Razão, Ira e Luxúria da tradição helênica.

As moças, belas, de origem nobre e boa reputação, encontram, na Igreja de Santa Maria Novela, três rapazes de 25 anos ou mais, amáveis e bem portados. Eles procuram suas amadas, que estão entre as sete moças.

 

O horror da Peste Negra

O livro Decamerão é uma rica fonte sobre a Peste Negra na Idade Média.

 

…tínhamos já atingido o ano (…) de 1348, quando, na mui importante cidade de Florença (…) sobreveio a mortífera pestilência (…) nenhuma prevenção valeu, baldadas todas as providências dos homens.

 

O livro afirma que foram cem mil mortos em Florença e região, e a pandemia teria provocado duas reações opostas: a luxúria desenfreada – bebedeira e busca irrestrita do prazer – ou o recolhimento em grupos a fim de orarem e viverem asceticamente, sendo que muitos oscilavam entre esses extremos. Muitas pessoas, desorientadas e aparvalhadas, vagavam pelos campos e se ajuntavam nas igrejas.

 

Os homens se evitavam (…) parentes se distanciavam, irmão era esquecido por irmão, muitas vezes o marido pela mulher; ah, e o que é pior e difícil de acreditar, pais e mães houve que abandonaram os filhos à sua sorte, sem cuidar deles e visitá-los, como se fossem estranhos.

 

Alguns estudiosos afirmam que muitos dos contos do livro Decamerão já existiam na tradição oral da época, e Boccaccio foi o primeiro a registrá-los. Personagens como Giotto di Bondone, o rei Guilherme II da Sicília e Saladino são reais, assim como outras figuras menos famosas, e outros caracteres, ainda, são fictícios, mas inspirados em pessoas reais.

Os diálogos no livro são realistas e a publicação é dividida em dez jornadas, cada uma contendo dez novelas, em geral não muito extensas.

A obra, chamada por alguns de “A comédia do sexo”, foi desafiadora para a Idade Média ao mostrar a natureza humana como nunca antes na trajetória da literatura.

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