Diário de um Dromedário: obra de Paulo Abrunhosa regressa às livrarias
No dia 12 de maio de 2017, Paulo Abrunhosa teria feito 59 anos. Com uma vida que terminou abruptamente cedo, o irmão do bem conhecido músico Pedro Abrunhosa deixou para trás poemas e textos dispersos e uma obra quase terminada, originalmente publicada no ano da sua morte, que chega agora de novo às livrarias portugueses numa nova edição. Ao longo dos próximos parágrafos é sobre o Diário de um Dromedário que falamos, recordando a vida do poeta pelas palavras de quem o conheceu.
A vida de Paulo Abrunhosa teve início a 12 de maio de 1958, na Cidade Invicta. É aqui que faz os seus estudos até concluir o ensino secundário, mudando-se mais tarde – após cumprir o serviço cívico obrigatório – para a cidade de Coimbra para estudar Direito. A licenciatura é concluída em 1985, seguindo-se um estágio na área da advocacia.
Contudo, é por esta altura que Paulo percebe que não foi talhado para pertencer a uma “sociedade engravatada”. O estágio é interrompido e fica por terminar, optando o autor por virar-se radicalmente para outras áreas.
Em 1987, em conjunto com o seu irmão Nuno, funda a revista Metro, inspirada pelas revistas gratuitas de grandes áreas metropolitanas europeias, que passa a circular no mercado português como a primeira revista de distribuição grátis. Por esta altura, as suas rotinas passam a ser totalmente atípicas, coordenadas pela escrita e pela noite.
Em 2001, a história de Paulo termina de forma abrupta, quando contava apenas com quarenta e três anos de idade. Por concluir ficou o Diário de um Dromedário que, publicado postumamente nesse mesmo ano, compila grande parte do seu trabalho literário do qual fazem parte poemas e textos. Para quem não conhece, garantimos que se trata de um livro de textos extravagantes e ricos semântica e foneticamente, nos quais quase nunca as palavras se repetem.
O Diário de um Dromedário pode ser lido como um manual de sobrevivência de um desalinhado na sociedade pós-moderna, mas não deixará nunca de ser, sobretudo, uma forma de conhecer o universo e o talento de Paulo Abrunhosa. Um registo original e intemporal: há, nesta obra, dezenas de rimas que ficam imediatamente na cabeça de qualquer leitor, como “Há um estranho no meu ranho” ou até mesmo “Abracadabra: uma realidade macabra”. Jogos simples de palavras, que se assumem como brincadeiras que agitam a nossa língua e provam que é capaz de malabarismos que não fizemos sequer ideia de ser possíveis.
Publicado originalmente em 2001 e esgotado há bastantes anos, o livro terá agora uma nova edição que chega às livrarias a 26 de maio, com chancela da Contraponto. Esta edição traz consigo ilustrações de PAM (Paulo Anciães Monteiro) e tenciona reavivar a chama de uma obra icónica ainda muito presente no imaginário dos portugueses.
“O Paulo Abrunhosa era um grande poeta, com uma sensibilidade fora do normal. Um dia alguém me disse – já não sei quem, mas concordei – que era um Pina a quente”, diz Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, no prefácio desta nova edição.
“O Paulo sabia que o acto das palavras é um acto de resistência. Legou-nos o seu Diário de um Dromedário, um livro autêntico, incandescente, inspirador, desafiador e desencaminhador. Um livro pleno de te(n)são poética e singeleza”, acrescenta João Gesta, o bem conhecido programador cultural, que prefacia também a nova edição da obra de Paulo Abrunhosa. Além dos dois prefaciadores de luxo, o livro conta com posfácios do ilustrador, Paulo Anciães Monteiro, e do irmão do autor, o músico Pedro Abrunhosa.
“O Paulo era um príncipe da palavra, alguém que se deslocava entre a suavidade das nuvens e a tempestuosidade da certeza com que se batia pela sua visão do mundo. Não era fácil ser o seu irmão mais novo, mas com que saudade recordo as discussões que mantínhamos e nas quais eu me afundava numa sensação de pequenez e ignorância”, escreveu Pedro Abrunhosa.
Para quem estiver interessado, o evento de lançamento desta reedição vai acontecer no Porto, no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no dia 27 de maio, às 17h30, e contará com um grande elenco: Pedro Abrunhosa e Manuel Cruz tocarão ao vivo; Ana Deus, Cristiana Sabino e Renato Filipe Cardoso lerão textos do livro; João Gesta, Rui Moreira e Valter Hugo Mãe protagonizarão uma conversa sobre o livro.