Um livro-álbum sobre a viagem de Eça de Queirós ao Egipto
Em 2015 celebramos os 170 anos do nascimento de Eça de Queirós, um dos nomes mais notáveis do Realismo literário nacional graças a obras como , e . Em jeito de celebração, decidimos recordar neste post uma obra biográfica que lança um olhar interessante à vida do autor para além do seu trabalho com as letras. Sabia, por exemplo, que Eça de Queirós tinha um grande fascínio pela cultura egípcia e chegou a empreender uma viagem até ao Egipto?
O livro – Recordações da jornada oriental de Eça de Queiroz e do Conde de Resende em 1969 foi lançado em 2002, pela ocasião do aniversário do autor e continua a ser hoje uma excelente obra sobre a sua vida.
O autor da obra, Luís Manuel de Araújo, cruzou-se por mero a caso com documentação sobre esta viagem do autor. Estudioso e apaixonado pelo mundo faraónico, começou por visitar o Solar dos Condes de Resende para analisar a colecção egípcia de 20 peças aí expostas. No entanto, acabou por encontrar algo de que não estava à espera: escritos de Eça sobre a viagem que ele e Luís Benedito de Sousa Holstein, V Conde de Resende, fizeram ao Egipto. Tratavam-se de relatos, comentários e até mesmo descrições daquilo que Eça de Queirós viu e conheceu na viagem.
Após vários dias de estudo, o escritor apercebeu-se que a colecção e os apontamentos registados por Eça de Queirós faziam uma “ponte bastante interessante entre o mundo da egiptologia e dos estudos queirosianos”, primeiro passo para a concretização deste livro-álbum. Refira-se que uma das peças foi considerada pelo egiptólogo como sendo uma das mais bonitas peças de madeira das cerca de 1200 que fazem parte das colecções espalhadas por Portugal.
Eça de Queirós no Egipto: “Só lhes faltou um máquina fotográfica”
Durante a sua estadia no mundo dos faraós, Eça de Queirós anotou tudo o que via e sentia, textos que agora compõem as mais de 300 páginas desta obra ilustrada com fotografias da época e não só.
Enquanto as delegações dos outros países eram representadas por altos membros das famílias reais europeias, a comitiva portuguesa fez-se representar por dois jovens, “que muito provavelmente devem ter quebrado alguns dos protocolos daquelas enfadonhas sessões”, salientou com humor Luís Manuel de Araújo.
“Só lhes faltou uma máquina fotográfica para captar alguns desses momentos, nomeadamente os monumentos faraónicos, o canal do Suez, as famílias reais e até mesmo as festividades”, lamenta o autor.
Depois de uma breve introdução, os capítulos sucedem-se um a um, emitindo as opiniões de Eça de Queirós à sociedade egípcia. O primeiro capítulo, por exemplo, é inteiramente dedicado ao homem egípcio, que pouco fala sobre a sua mulher. Mulher, essa, que também mereceu particular interesse por parte do escritor português que ia registando o que via nas ruas, em particular os seus hábitos e as danças.
Seguem-se depois apontamentos sobre a religião no Egipto, a paisagem descrita a partir de uma viagem que fez de Alexandria ao Cairo, onde a uma certa altura compara aquela paisagem à da Estremadura, o Nilo, as mesquitas, o Museu Egípcio, os arredores do Cairo, entre outros temas. Uma viagem que, de acordo com Eça de Queirós, “permanecerá sempre como a glória superior da minha obra”. Uma para todos os que apreciarem o trabalho do autor.
Relembramos que, também sobre a viagem de Eça de Queirós ao Egipto, existe o livro , onde o autor compila alguns dos seus relatos sobre a viagem que fez ao lado do Conde de Resende.