Vaticano digitaliza manuscrito de A Eneida com 1600 anos
Em Roma, por volta do ano 400, um escriba e três pintores deram forma a um manuscrito iluminado do poema épica A Eneida, cuja autoria é atribuída a Virgílio. O manuscrito relata, através de letras e iluminuras, a viagem do antigo herói Enéias de Tróia para o território onde é hoje Itália. Sensivelmente 1600 anos mais tarde, o Vaticano digitalizou os fragmentos sobreviventes deste manuscrito e mostrou-os ao público. Conhecido como o Vergilius Vaticanus, é uma das versões mais antigas do mundo do poema épico.
O projeto de digitalização é parte de um esforço de muito anos da Digita Vaticana, uma organização sem fins lucrativos afiliada à Biblioteca do Vaticano e que almeja converter manuscritos da biblioteca para o formato digital. Fundada em 1451, a biblioteca é o lar de cerca de 80.000 manuscritos e textos, incluindo desenhos e anotações de nomes como Michelangelo e Galileu. O objetivo da Digita Vaticana é converter esses “40 milhões de páginas em 45 quatrilhões de bytes”, de acordo com o que podemos encontrar no seu website.
Além d’A Eneida, o Virgil Vaticano também contém pedaços do segundo maior poema de Virgílio, Geórgicas, um texto sobre a agricultura e as tensões entre a natureza e a humanidade. Composta por 76 páginas, das quais sobrevivem 50 ilustrações, algumas delas bastante danificadas, o Vergilius Vaticanus é apenas um fragmento do manuscrito completo. As páginas iniciais estão inteiramente perdidas. Se o manuscrito continha todas as obras canônicas de Virgílio, deveria ter, supostamente, cerca de 440 folhas e 280 ilustrações.
Escrito por um único escriba mestre em capitais rústico e ilustrado por três pintores diferentes, o Vergilius Vaticanus é um dos três únicos manuscritos iluminados da literatura clássica. Ouro granulado, aplicado com um pincel, destaca meticulosamente imagens de cenas famosas do poema: Creusa enquanto tenta manter o seu marido Eneias em casa, prevenindo-o de ir para a batalha; as ilhas das Cíclades e a cidade de Pergamea, destruídas pela peste e da seca; Dido na sua pira funerária, declamando o seu monólogo final.
Para digitalizar o Vergilius Vaticanus, bem como 3.000 outros manuscritos, a Digita Vaticana juntou forças com a sede em Tóquio da empresa de tecnologia de informação NTT DATA. Esta parceria usou um scanner especializado que evita danos ao delicado manuscrito: usa raios-livres de ultravioleta e capta o livro para que páginas individuais possam ser digitalizadas sem abertura total. As imagens recolhidas são carregadas na base de dados da biblioteca ao lado de metadados sobre as imagens e história.
O processo de digitalização, de tal material antigo, é delicado e até mesmo aborrecido: a Digita Vaticana espera demorar 15 anos e 50 milhões de euros para digitalizar 80.000 manuscritos antigos.