Érico Veríssimo: o maior escritor gaúcho de todos os tempos
Em 1905, o mundo e, mais especificamente, o Brasil, receberam um presente que ficaria marcado na História: nascia o gaúcho (nome atribuído no Brasil aos nascidos no Rio Gande do Sul) Érico Veríssimo, um dos maiores escritores brasileiros que as estrelas já contemplaram.
Seus versos permanecem vivos, ululantes nos vales, fazendas e vilarejos onde se passou a maior parte de suas narrativas.
Érico Lopes Veríssimo veio de um pequeno lugar no interior do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil, chamado Cruz Alta. Era 17 de dezembro, quase Natal.
Proveniente de família tradicional e abastada, filho de Sebastião Veríssimo da Fonseca e Abegahy Lopes, viu seus pais perderem boa parte da fortuna. Assim, Érico começou a trabalhar muito jovem para ajudar nas despesas.
A vocação pela Literatura veio cedo – como costuma ocorrer com as grandes vocações. Leu inúmeros clássicos brasileiros, de Euclides da Cunha a Monteiro Lobato, de Oswald de Andrade a Aluísio de Azevedo. Mas não se restringiu aos brasileiros: foi admirador dos russos Dostoiévski e Tolstói, do francês Balzac, do italiano Zola, do sarcástico irlandês Wilde e do visionário Aldous Huxley, por exemplo.
Érico estudou no Colégio Elementar Venâncio Aires, e em 1920 foi para Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, tornando-se aluno do Colégio Interno Protestante Cruzeiro do Sul na metrópole.
Seus pais se separam e, em 1922, veio a trabalhar como balconista, depois no Banco Nacional do Comércio. Voltou à remota Cruz Alta, associando-se a um amigo na Pharmacia Central em 1926. Não deu – faliu em 1930. Pois foi aí, das cinzas, que sua carreira literária floresceu como uma vultosa rosa de Hiroshima.
Érico voltou a Porto Alegre e decidiu viver de escrever. Envolveu-se com escritores conceituados e foi contratado como secretário de redação da Revista do Globo. Viria a ser promovido como diretor da publicação e indicado a gerente do departamento editorial da Livraria do Globo. Nesse tempo, colaborou com jornais e foi escolhido presidente da Associação Rio-Grandense de imprensa.
Em 1931 casou-se com Mafalda Halfen Volpe, de onde nasceram dois rebentos: Clarissa (nome de uma de suas mais notórias personagens, e título de um de seus livros) e Luís Fernando (cronista brasileiro).
Veio a censura do Estado novo nos anos 1940 e Érico fugiu para os Estados Unidos, vindo a lecionar História do Brasil e Literatura no Mills College, Oakland, Califórnia. Ali recebeu o título de Doutor Honoris causa, em 1944.
Eis que em 1953, vem a ocupar o cargo de Diretor do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana em Washington, durante três anos.
Dali até 29 de novembro de 1975, quando um fulminante infarto levou sua vida repleta de poesia e sonhos, em Porto Alegre, escreveu várias obras, muitas que se tornaram seriados e filmes.
Obras de Érico Veríssimo
Veríssimo fez parte da segunda fase modernista, a fase de consolidação. É considerado um dos escritores mais influentes do século XX. Alguns de seus maiores prêmios são:
Prêmio Machado de Assis, pela Academia Brasileira de Letras – 1954.
Prêmio Jabuti, o mais importante prêmio de Literatura do Brasil, pelo romance O senhor embaixador – 1965.
Suas obras incluem contos, novelas, romances, ensaios, literatura infanto-juvenil, autobiografias e biografias e traduções.
Pesquisadores costumam dividir sua obra em 3 fases: romance urbano, romance histórico e romance político.
Veja algumas de suas mais notórias obras-primas:
Fantoches – 1932;
Clarissa –1933;
Música ao longe – 1935;
Um lugar ao sol – 1936;
As aventuras do avião vermelho – 1936;
O urso com música na barriga – 1938;
Olhai os lírios do campo – 1938;
Saga – 1940;
Gato preto em campo de neve – 1941;
As mãos de meu filho – 1942;
O resto é silêncio – 1943;
A volta do Gato Preto – 1946;
O tempo e o vento – 3 volumes: O continente – 1948; O retrato – 1951 e O arquipélago – 1961;
Noite – 1954);
Gente e bichos – 1956;
O escritor diante do espelho – 1956;
O prisioneiro – 1967;
Incidente em Antares – 1971.
Eis apenas uma parte da vasta obra do gaúcho Érico, o menino de Cruz Alta que veio dos balcões para o estrelato na Literatura. É especialmente notável a abordagem da cultura gaúcha (bastante peculiar no Brasil) em suas obras, que muitas vezes tratam de fatos reais, como guerras e movimentos políticos no Rio Grande do Sul.
Destacam-se, em todas as obras, a trilogia O tempo e o vento, um ícone representativo da árdua vida dos primeiros moradores do Rio Grande do Sul.
Érico de fato manteve por toda a vida o orgulho de ser gaúcho, mostrando, com seus personagens – como Ana Terra e Capitão Rodrigo – a coragem, a bravura e o esforço desse povo que já foi tão sofrido no passado, dizimado por conflitos armados como A Guerra dos Farrapos.
Quer conhecer algumas de suas frases?
Confira:
“A vida começa todos os dias.”
“Na minha opinião existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar.”
“Nenhum escritor pode criar do nada. Mesmo quando ele não sabe, está usando experiências vividas, lidas ou ouvidas, e até mesmo pressentidas por uma espécie de sexto sentido.”
Curiosidades sobre Érico Veríssimo
Aos 4 anos, por pouco não morreu de meningite, acompanhada por uma broncopneumonia: não era hora ainda de ir embora nosso memorável escritor;
O resto é silêncio, romance de 1943, é baseado em uma história verídica que ele e seu irmão Ênio testemunharam, conversando em uma praça em Porto Alegre: uma mulher se suicida ao se atirar do décimo andar;
Seu filho Luís Fernando Veríssimo tornou-se escritor, notadamente cronista de obras de humor, das quais se destacam O analista de Bagé. No entanto, não chegou a atingir a magnitude literária do pai, concentrando-se em obras curtas urbanas, algumas com viés da cultura gaúcha, como O analista de Bagé;
Algumas obras adaptadas para cinema e televisão: Olhai os lírios do campo, novela da rede Globo em 1980, que se tornou série em 1985.
Érico Veríssimo, sem dúvida, foi um dos maiores escritores de todo o mundo e o maior dos gaúchos. Suas obras são épicas, por vezes perturbadoras, como Incidente em Antares, outras vezes repletas de heroísmo como O tempo e o vento.
Quem venceu a morte aos 4 anos, perdeu sua fortuna e foi se aventurar em Porto Alegre, e depois nos Estados Unidos, tornou-se a pessoa forte e batalhadora que ficou eternamente refletida em seus bravos personagens, dos quais a mais conhecida é Ana Terra. Aplaudimos Érico Veríssimo, o grande sonhador que, até hoje, faz com que tantos leitores sonhem!