1984: o sufoco distópico de um mundo que foi nosso
Em 1948, enquanto a Europa e o mundo recuperavam da mais terrível guerra de que há história, um homem sonhou com o ano de 1984 e escreveu um livro sobre essa realidade que anteviu. No ano 1984, a minha mãe tinha 20 anos e leu pela primeira e única vez. Mais tarde, quando comecei a devorar os ditos livros para “gente crescida” pedi-lhe uma opinião sobre a obra de George Orwell e ela disse-me que não tinha gostado. Em 2014, poucas semanas depois de fazer 20 anos, abri pela primeira vez 1984 e eis o que aconteceu.
Antes de mais, deixe-me que lhe diga que 1984 é um livro perturbador. Imagina-se a viver num mundo que assume como suma máxima as frases Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força? Escrito pelo britânico George Orwell, a história leva-nos a um futuro distópico. Algo correu mal ao mundo que conhecemos e a realidade que existe é muito diferente daquela onde vivemos hoje.
A Europa e a maior parte da Ásia são uma única nação, conhecida como Eurásia. Um dos maiores inimigos da Eurásia é a Oceania, constituída pelo Reino Unido, Irlanda, América, o Sul de África e Oceânia. Uma fatia considerável do sul asiático, do qual faz parte a China, constitui a Lestásia. Estas três nações estão sempre em guerra uma com a outra, fazendo alianças que são desfeitas logo depois e lutando consecutivamente pelas terras Disputadas (Antártida e África do Norte).
Ok, isto por si só já prova que esta é uma realidade diferente. Partindo da Segunda Guerra Mundial como ponto de referência – época em que Orwell viveu – é estranho pensar que o mundo tenha mudado de tal forma no espaço de 40 anos. Como é que tudo isto aconteceu? Essa é a uma pergunta à qual não obtemos uma resposta concreta e não é de certeza a única pergunta que fica por responder. Estabelecido agora o cenário deste livro, deixe-me apresentar-lhe as personagens.
1984: e tu, tinhas coragem para lutar pela liberdade?
A história gira à volta de Winston Smith, um cidadão da Oceania, num local chamado de Pista nº 1 que corresponde à cidade de Londres. Winston trabalha para o Ministério da Verdade – o órgão governamental que assegura que todos os arquivos da nação estão de acordo com as mudanças feitas pelo Governo. Se o Big Brother – o líder totalitário da Oceania – diz que o acontecimento X não aconteceu, funcionários como Winston têm de rever todos os documentos e notícias de forma a reescrever a história e a remover o acontecimento X.
Como já percebeu, a Oceania encontra-se sobre um regime totalitário opressivo. Além de propaganda excessiva – como ecrãs que transmitem a imagem do Big Brother – cada cidadão é vigiado constantemente. Se Hitler tivesse acesso a estas tecnologias, o mais provável é que o mundo que conhecemos fosse hoje completamente diferente.
O regime do Big Brother controla a vida de todos os cidadãos. Primeiro, existem horários que determinam toda a rotina diária de uma pessoa. Segundo, existem câmaras nas ruas, no trabalho e até mesmo em casa de forma a assegurar que todos se comportam conforme as regras. Ao implementar o lema de Ignorância é força, o governo está exatamente a dizer que quem não pensar vai ter uma vida boa.
Porém, Winston Smith quebra a regra. A dúvida sobre a legitimidade do governo do Big Brother é implantada na sua cabeça quando, um dia, tem de apagar dos registos do governo o nome de um suposto criminoso.
Ao longo de , assistimos à tentativa de revolta de Winston, o cidadão exemplar que não foge à lei e às regras – porque sabe bem o que isso implica. Ao ler aquelas páginas, tememos pela própria personagem e esperamos que não haja ninguém ao virar da esquina pronto para o denunciar.
Eventualmente, somos introduzidos a uma segunda personagem, Júlia. Apesar de se dizer “leal” à ideologia do Big Brother, esta sensual funcionário do Governo provoca o Winston, recorrendo à sua própria sexualidade para o incitar à revolta. Juntos, desenvolvem um plano acreditando que o povo, unido, pode derrotar o Big Brother.
Lembro-me que o livro me prendeu de tal forma que, uma vez, o ia a ler no autocarro, a caminho das aulas, e que estava de tal forma concentrado que perdi a paragem onde tinha de sair. Resultado: tive de caminhar à chuva durante dez minutos, um preço que não me pareceu demasiado custoso já que consegui ler mais uma página.
Tão bem como esse momento, lembro-me de acabar de ler o livro. O que era aquilo que tinha acabado de ler? Confuso, voltei a reler os últimos parágrafos, outra vez e outra vez. É difícil explicar o que se sente na última página de . Ainda hoje penso angustiado na incoerência daquelas frases.
Se sentirem o mesmo, procurem quem tenha lido o livro. Falem sobre o que leram. Foi assim que consegui encontrar um pouco daquilo a que os ingleses chamam de closure – um sentimento de aceitação do inevitável. Ainda assim, não esperem obter uma resposta concreta. Pergunto-me se terá sido esse o propósito de Orwell e, claro, se é por esse motivo que a minha mãe ainda torce o nariz quando se fala do livro.
Oi Eduardo, a primeira primeira e única obra de George Orwell que li foi A Revolução Dos Bichos, e até hoje digo e repito: o livro é chato. 1984 é um livro altamente recomendado na faculdade, mas desde minha experiência com A Revolução Dos Bichos, fico com medo e ler e me decepcionar mais uma vez.
Olá Cassia! Obrigado pelo seu comentário. A escrita pode não ser propriamente leve, mas é relevante e marcante. Aconselho vivamente!
Li esse livro mês passado. Um livro muito atual, principalmente pra nossa realidade aqui no Brasil!
George Orwell, que foi aluno do mestre Aldous Huxley foi, sem dúvida, um grande gênio. Ele consegui ver o futuro já nos seus dias. E o que ele escreveu sobre a opressão comunista e de outras ditaduras, nos faz pensar e refletir sobre os nossos dias. Principalmente com toda essa prepotência e arrogância da Rússia contra a Ucrânia, destruindo a vida de muitas vítimas inocentes.
Os grandes escritores do passado tinham talento e um dom especial para descrever o futuro a parit de sua visão de mundo