Helena Sacadura Cabral e porque as mulheres amam os homens
Manuel Fonseca, editor da Guerra & Paz, convidou Helena Sacadura Cabral para uma árdua tarefa cujo o resultado se pode ler em . Este é um um livro que não traz as soluções sobre esse mistério que é o amor, mas que dá algumas pistas sobre a multiplicidade de razões e de motivos que levam as mulheres a gostarem do sexo oposto.
Serão os aspectos físicos primordiais para o despoletar da paixão? Ou serão também factores como a cultura, a inteligência, o humor e a sensibilidade determinantes por essa chama que arde sem se ver? Ou será o conjunto de todos estes aspectos que fornece o resultado certo de uma equação feita a dois? A foi-lhe lançado o desafio de descobrir as variadíssimas facetas com que se apresenta a paixão, tendo contado para o efeito com o testemunho precioso de diversas mulheres de faixas etárias e condições sociais distintas.
Pela altura do lançamento do livro, tive a oportunidade de assistir a uma sessão com a autora no El Corte Inglês, em Vila Nova de Gaia, e no final pude ainda falar um pouco com a autora para perceber como conseguiu construir esta obra.
Helena Sacadura Cabral: a que conclusões chegou?
Ao longo das mais de cem páginas do livro e à medida que o resultado dos testemunhos surgem depois de analisadas as respostas do inquérito anónimo distribuído às intervenientes femininas, Helena Sacadura Cabral vai dando a conhecer, aqui e ali, também algumas das suas preferências em relação ao sexo oposto.
São pequenos apontamentos que acentuam diferentes aspectos da paixão vivida em épocas distintas. Se, em determinada altura da sua vida, a inteligência ocupou o lugar cimeiro do despontar do amor, a escritora confessava na altura que: “Já não é exclusiva. A inteligência partilha agora um lugar igual a uma boa formação moral ou a um bom coração”.
Já, no que concerne ao aspecto físico, as mãos são a parte do corpo mais apreciada face aos olhos ou à boca, por exemplo, sendo a mentira aquilo que menos lhe agrada. E não é apenas nos homens. “Não tolero a mentira no ser humano”, sublinhou a autora, acrescentando que “tolero mais uma traição, porque a traição confessada tem perdão, do que uma mentira insistida”.
E que lugar ocupará a inteligência no compito geral dos testemunhos ouvidos?
Sobre esta matéria, explica: “No livro existem muitas mulheres que respondem que a inteligência é qualquer coisa que elas carecem para que a relação sobreviva, mas não aquilo que desperta a paixão. O coup de foudre não acontece pela inteligência. É uma coisa física e emocional. A inteligência é algo que faz com que a relação se vá solidificando ou que faz com que a relação se vá transformando de amizade em amor”. E, em matéria de amores, também a autora desvenda que teve “alguns” e que foram “os suficientes” para se sentir uma mulher “feliz e contente”.
Ao longo das muitas conversas que sustentam o propósito deste livro, Helena Sacadura Cabral revela que a surpresa dos testemunhos não residiu nas coisas que descobriu, mas sim na forma como as pessoas as entendiam. Segundo a própria, “a paixão pode revestir múltiplos aspectos. Existem pessoas que se consomem de paixão, que só se alimentam para si próprias e quase se deprimem. Outras, pelo contrário, encontram na paixão um alento, uma força, uma capacidade para fazer outras coisas. A verdade é que sobre o mesmo tema existem posições muito diferentes, pois a alma humana é muito complexa e motivada pelas razões mais estranhas”.
E o amor terá modas?
Com toda a segurança, a autora confirma e sustenta: “Tem com certeza. ‘Make love, not war’ não é uma moda? O amor como outras vivências sociais é influenciado pela forma como vivemos numa determinada altura e sociedade. As modas são o aspecto exterior de como vivemos o amor e que é bem diferente da emoção. Houve alturas em que o amor era fiscalizado, policiado e depois passou-se para o make love not war que é o oposto, em que existe alguma promiscuidade até na forma como as pessoas se relacionam. Aliás, entre a minha geração e a geração dos meus netos, por exemplo, o que muda no amor é a forma e não o conteúdo. Penso que a expectativa, o anseio e o desejo de partilha é o mesmo, apenas vivenciado de forma diferente”.
A dada altura do livro, escreve que o primeiro passo para o amor estará na lucidez, posteriormente na capacidade de avaliar a compatibilidade ou incompatibilidade de nós com o outro e, por fim, no olhar o homem com o olhar da maturidade.
De acordo com a escritora, “tudo na vida tem um prazo de validade e o amor tem um prazo de validade também. O que é preciso é transformar e alongar essa validade, porque a nossa vida também não é eterna. Portanto, não podemos querer amores eternos se nós não o somos. Acho que a maturidade ajuda a enformar o amor e a dar-lhe tonalidades e formas diferentes. Já a lucidez permite abrir melhor o caminho que nos conduz a alguém. Não se ama aos 50 da mesma forma que se ama aos 20, assim como não se ama dois filhos da mesma forma. O mesmo se passa com um homem. Também ele pede que nós o olhemos de forma única e especial”.
“Porque é que as mulheres gostam dos homens” é dedicado a todos os homens que sabem amar as mulheres.
Em jeito de conclusão indagamos: As mulheres também sabem amar os homens? “Nem todas e, por isso, fiz questão de dizer: aos que sabem amar as mulheres. Amar é uma arte que se apura, que se conquista, que se aprende e que varia. Como digo no livro, uma mulher ama dois ou três homens de forma diferente, não é a mesma mulher com diferentes homens. Isso significa que o amor é uma troca e, portanto, ela também dá em função daquilo que recebe”, conclui Helena Sacuda Cabral.