Henry Miller: um mestre imortal da Literatura mundial
Nascido no dia 26 de dezembro de 1891, Henry Miller é hoje relembrado como um dos nomes mais importantes da história da literatura, apesar de grande parte da sua obra mais emblemática ter sido banida nos EUA. De ascendência alemã, cresceu entre a classe operária de Brooklyn, brincando com a irmã na alfaiataria que o pai mantinha e onde atendia os seus clientes. Mais tarde, esses dias da infância de Henry Miller seriam descritos por ele mesmo como difíceis, apesar de essenciais para aprender a ‘viver na rua’.
Na escola, provou ser um estudante brilhante e muito talentoso, com um apetite voraz para a literatura. Clássicos e histórias de aventuras estavam entre os livros preferidos na sua estante. Chegada a hora de prosseguir para o ensino superior, enveredou para o City College of New York. O sistema tradicional de educação aí ministrado não foi, no entanto, do seu agrado. Incapaz de se resignar a tal sistema, lançou-se para o mercado de trabalho, aceitando empregos que estavam aquém daquilo que desejava.
Este não foi um período tranquilo. A nível pessoal a vida de Henry Miller foi sempre muito intensa e atribulada, marcando de forma indelével a sua obra posterior. Em 1917, casa com Beatrice Sylvas Wickens, casamento que dura apenas até 1923 e do qual resulta uma filha. Entre os motivos apontados para o divórcio, o mais determinante terá sido o caso com Jane Mansfield, uma dançarina por quem Henry Miller se apaixonou e com quem viria de facto a casar em 1924.
Tais enlaces amorosos influenciaram profundamente a sua escrita, como está demonstrado em Moloch, na sua autobiografia e ainda no trabalho Crazy Cocks, que tem como enfoque a relação lésbica que a esposa manteve com a artista Jean Kronski.
Segue-se um período em Paris, entre 1930 e 1939 que provou ser determinante para a carreira de Henry Miller e que acabou por ter de novo impacto na sua vida pessoal e profissional. Ao conhecer Anaïs Nin, a famosa autora nascida e residente em Paris, inicia (mais) uma relação amorosa extraconjugal. Por essa altura, dedica-se a escrever a obra que definitivamente colocou Henry Miller entre os maiores nomes da literatura. O livro Trópico de Câncer, cuja impressão foi mais tarde financiada pela própria Anaïs Nin, significou também o final do segundo casamento do escritor norte-americano, que se divorcia por procuração em 1934.
Henry Miller e o sucesso (banido) de Trópico de Câncer
O seu livro Trópico de Câncer, uma espécie de relato semi-autobiográfico onde dá conta das suas experiências em Paris, esteve banido durante mais de 30 anos nos Estados Unidos da América e no Reino Unido. Com um cariz profundamente sexual, esta obra é sem dúvida o grande marco da carreira de Henry Miller e a polémica instalada, como seria de esperar, converteu o documento num best seller e, mais tarde, num dos clássicos da literatura do país que tanto o criticou.
Em 1940, alguns meses após o início da II Guerra Mundial, Henry Miller fez as malas e regressou ao país natal. Durante esse período escreveu críticas satíricas sobre os EUA, tecendo os seus próprios comentários pessoais e baseando a sua escrita naquilo que viveu. Títulos clássicos da obra do autor, como The Air-Conditioned Nightmare, Remember to Remember e Big Sur and the Oranges of Hieronymus Bosch, foram escritos nesta altura. Na sua autobiografia The Rosy Cucifixion mostra de perto os desafios que o comum escritor americano tem de enfrentar para alcançar o sucesso. A sua visão chocante e por vezes ofensiva, sempre com intenção de usar a liberdade de expressão para mostrar a verdade, abriu caminho para a Beat Generation.
Mas, repetindo, a vida pessoal de Henry Miller foi intensa, demasiado intensa. Depois de dois casamentos fracassados e vários casos que alegadamente manteve, ainda voltou a casar mais três vezes. Em 1980, com 88 anos, morreu devido a problemas circulatórios. Por essa altura, encontrava-se a colaborar com o ator e realizador Warren Beatty no filme Reds, que acompanhava a história de um jornalista americano com uma visão muito radical e que se encontrava a cobrir a Revolução Russa.