Jack Kerouac: a história do maior talento da Beat Generation
Quebrou barreiras, abriu horizontes, contou segredos, retratou uma nova geração e marcou para sempre a história da literatura com a sua prosa espontânea. Jack Kerouac ainda hoje é reconhecido como o maior talento literário da Beat Generation, mas a influência do autor de é tão vasta e incisiva, que os seus efeitos permanecem actuais.
Jean-Louis Lebris de Kerouac nasceu em 1922 em Lowell, Massachusetts (EUA). Os pais eram naturais do Quebec, Canadá, sendo que o pai tinha a sua própria tipografia. A infância feliz foi marcada por um acontecimento trágico que viria a determinar a sua escrita: quando tinha 9 anos, o irmão mais velho faleceu. Como resultado, a família virou-se para o catolicismo.
Os primeiros anos foram passados no meio da leitura de histórias. Jack Kerouac era ávido na leitura de revistas de ficção, enquanto conciliava a paixão pelo desporto. Com jeito para o futebol e para o basquetebol, o jovem encarava as modalidades como o seu passaporte para o futuro. Ainda mais quando, com a chegada dos anos 30 e da Grande Depressão, a família estava com graves dificuldades financeiras. Por volta da mesma altura, o pai começou a jogar e a beber.
E foi, de facto, o desporto que o levou para o ensino superior. A uma determinada altura, candidatou-se a uma bolsa atribuída a futebolistas pela Universidade de Columbia. Com 17 anos de idade, fez as malas e mudou-se para a cidade de Nova Iorque. Aí descobriu o jazz e começou as primeiras incursões pela escrita. Pouco depois, começou a trabalhar como jornalista para a Horace Mann Record. As primeiras short stories viram a luz do dia pouco tempo depois.
Contudo, durante o primeiro ano na Universidade de Columbia, Jack Kerouac partiu uma perna. Durante a recuperação, o jovem passou muito tempo na biblioteca, já que não podia treinar. Quando regressou foi impedido de jogar pelo treinador, acabando por desistir da equipa e da universidade num ato impulsivo. Para se sustentar, agarrou várias profissões e acabou por trabalhar em cidades diferentes. Com a chegada da II Guerra Mundial, Jack Kerouac viu uma oportunidade e alistou-se nos Marines. Acabou por ser dispensado 10 dias depois. No relatório médico lê-se que tinha “fortes tendências esquizóides”!
Depois da experiência militar mal-sucedida, o jovem regressou a Nova Iorque, onde iniciou com Allen Ginsberg e William Burroughs as bases do movimento Beat Generation. Decorriam, então os anos 40, altura em que Jack Kerouac escreveu o seu primeiro romance The Town and City, com um estilo bastante diferente dos seus livros seguintes. A obra, com uma elevada carga autobiográfica, foi publicada em 1950 e, apesar das críticas positivas, não foi suficiente para que o escritor se destacasse.
Jack Kerouac e o caminho para On the Road
O icónico livro auto-biográfico On The Road é o romance mais conhecido de Jack Kerouac, sendo considerado por muitos como uma verdadeira obra-prima sem precedentes. O livro introduziu uma nova forma de contar histórias e foi inspirado numa série de viagens pelos EUA, em conjunto com o seu grande amigo delinquente Neal Cassady. Embora seja um livro ancorado em episódios reais com pitadas de ficção, a Bíblia da Beat Generation conta as diversas viagens de dois jovens, Sal Paradise (Jack Kerouac) e Dean Moriarty (Neal Cassady), que embarcam em aventuras repletas de sexo, droga e música, em conjunto com pensamentos filosóficos e introspecções profundas. A lenda conta que o livro On The Road foi escrito em 3 semanas num único rolo de papel, que no final tinha 36 metros de comprimento!
Além do conteúdo também o estilo de escrito do livro era sinónimo de liberdade: sem grandes preocupações de pontuação e sem pensar muito na escolha das palavras, Jack Kerouac escrevia como pensava, criando desse modo um registo único e vibrante.
Numa obra onde a verdade e ficção se cruzam, surgiu o estilo “prosa espontânea”, inspirado pela improvisação típica do estilo be-bop da música jazz. On The Road foi lançado em 1957, seis anos depois da sua conclusão. O livro foi um sucesso imediato, muito graças a um review do The New York Times, onde se lia que a obra viria seguramente a ser o símbolo da Beat Generation. A previsão não podia estar mais certa.
Outras viagens e o fim dos dias
No período entre a conclusão e a publicação do seu grande sucesso, Jack Kerouac não parou de escrever nem de viajar. Com o poeta Gary Snyder, explorou o budismo numa viagem que deu origem a The Dharma Burns, primeiro livro publicado depois de On The Road. Seguiram-se vários outros romances, como The Subterraneous, Dr. Sax ou Big Sur. Nos últimos anos também escreveu poesia, chegando até a gravar álbuns a declamar poemas e textos dos seus livros.
Apesar de se manter na ribalta durante muitos anos, a verdade é que Jack Kerouac nunca conseguiu um êxito que lançasse sombra sobre On The Road. O fim dos dias foi marcado pelo alcoolismo e pelo consumo de drogas. Ao longo da vida, o escritor casou 3 vezes e teve uma filha do segundo casamento. Faleceu em 1969, quando tinha apenas 47 anos de idade, vítima de uma hemorragia no abdómen.