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José Saramago: o homem que deu a Portugal o Nobel da Literatura

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José Saramago: o homem que deu a Portugal o Nobel da Literatura

by Eduardo Aranha

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O primeiro e, até à data, único Nobel de Literatura português foi reconhecido de forma universal em 1998. Desde Portugal para o mundo, José Saramago escreveu com uma perspetiva de tal forma crítica que é impossível ficar indiferente às suas palavras.

Nas suas obras fala de países, sociedades, religiões e, sobretudo, conta histórias de pessoas que tocam o realismo mágico, emocionando os leitores. Os livros de José Saramago têm um valor intemporal porque exploram vicissitudes sociais que se mantêm atuais, independentemente do tempo ou do espaço em que são lidas. Olhemos, agora, para a história do escritor.

Quem foi José Saramago?

Natural do Ribatejo, José Saramago era filho de uma família de camponeses que trabalhavam as terras dos outros. O Nobel da Literatura português chamar-se-ia José de Sousa (nome que também é o do pai) se o empregado do Registo Civil não tivesse decidido, por iniciativa própria, colocar o apelido da família: Saramago. Até aos 7 anos, Saramago julgou chamar-se só José de Sousa. Por essa altura, descobriu o seu nome completo, quando foi obrigado a apresentar um documento identificativo para entrar na escola primária.

Anos depois, o pai decidiu largar o campo para ir trabalhar como polícia para Lisboa. As condições de vida melhoraram, mas só quando tinha 13 ou 14 anos teve a sua primeira casa. Até então, a família Saramago viveu em divisões partilhadas juntamente com outras famílias.

1507-1Apesar das melhorias, a família continuava a ter muitas dificuldades económicas. Como tal, José Saramago teve de deixar a escola, que tinha frequentado com distinção. A alternativa foi enveredar pelo ensino profissional, onde aprendeu a arte de serralheiro mecânico. Em simultâneo com o trabalho numa fábrica de automóveis, começou a aproveitar os tempos livres para visitar a biblioteca e cultivar a paixão pelos livros.

O aprofundamento nas letras fez com que se tornasse qualificado para um trabalho como administrativo da Segurança Social. Em 1944, casou com a então dactilógrafa e futura artista plástica de renome, Ilda Reis. Três anos depois, nasceu a sua única filha e publicou a sua primeira obra, A Viúva (intitulado pela editora como Terra do Pecado). Seguiu-se Claraboia, que permaneceu inédito até à sua morte, e um período de 19 anos sem qualquer novo título.

 

A intervenção política pró-comunista e a postura contra o regime salazarista fez com que fosse despedido em 1949. Voltou então à metalúrgia, atividade que viria a largar novamente para trabalhar na Estúdios Cor, uma editora. Esta fase marcaria o regresso às letras. Entretanto, começou também a fazer traduções como forma de ganhar dinheiro extra. Por obrigação e diversão, traduziu nomes como Jean Cassouy, Maupassant, André Bonnard, Tolstoy e Baudelaire.

No período seguinte, José Saramago voltou a publicar e começou a trabalhar como crítico literário. O trabalho na editora continuou até 1971. Um ano antes, divorciou-se de Ilda Reis e aproximou-se da escritora Isabel Nóbrega, com quem ficaria até 1986. Seguiu-se o trabalho no jornal Diário de Lisboa, como jornalista e coordenador do segmento cultural. No ano de 1975, exerceu o cargo de diretor-adjunto do Diário de Notícias, sendo depois demitido na sequência do golpe militar de 25 de Novembro.

José Saramago no Alentejo: escritor por inteiro

A instabilidade política e o desemprego levaram José Saramago a dedicar-se inteiramente à literatura. Decidiu então instalar-se no Alentejo para se focar na escrita. O livro Levantado do Chão (1980) foi o culminar desse período de introspeção. Antes disso, em 1978, publicou a coletânea Objecto Quase e, em 1979, a peça de teatro A Noite.

A década de 80 foi totalmente dedicada aos romances. Foi nesta altura que foram editadas algumas das obras mais importantes do escritor português e que o tornaram mundialmente reconhecido pelo estilo de escrita ímpar. Obras como Memorial do Convento, Ano da Morte de Ricardo Reis, A Jangada de Pedra e História do Cerco de Lisboa ainda hoje são lidas por milhões de pessoas em todo o Mundo. Também nesta década, em 1986, conheceu Pilar del Rio, jornalista com quem casaria dois anos depois.

Em 1991, a polémica da censura em torno do livro O Evangelho segundo Jesus Cristo pelo Governo Português fez com que José Saramago optasse por mudar de residência, passando a viver na ilha de Lanzarote, Espanha. Foi aí que passou a escrever as suas obras, com destaque para Cadernos de Lanzarote (com escrita começada em 1993) e Ensaio sobre a Cegueira de 1997. Em 1995 recebeu o Prémio Camões, atingindo a consagração mundial em 1998, quando venceu o prémio Nobel da Literatura. Em 2007, nasceu a Fundação Saramago, cujo objetivo principal é a divulgação da literatura e a defesa dos Direitos Humanos. O extraordinário escritor português faleceu em junho de 2010, na ilha de Lanzarote.

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