Judeus e Cristãos Novos no Mundo Lusófono: judaísmo português no mundo
O livro Judeus e Cristãos Novos no Mundo Lusófono apresenta-nos as mais recentes pesquisas realizadas no âmbito dos Estudos Judaicos, no que toca a uma das suas dimensões fundamentais: a matriz lusófona da cultura judaica e cristã-nova.
Esta portugalidade é confundida muitas vezes no mundo judaico em geral, com os produtos tradicionais da vizinha Espanha, já que o contexto Ibérico é conhecido como sendo o embrião da cultura Sefardita.
No entanto, as vivências, o património e as identidades específicas dos judeus e cristãos-novos de origem portuguesa tiveram no passado e continuam a ter no presente, efeitos muito característicos, híbridos e criativos, como os autores dos textos permitirão aos leitores concluir.
É notável o empenho com que foram desenvolvidas as investigações apresentadas nos vários capítulos, quer sejam centradas no domínio da história, da literatura, do cinema, da antropologia ou áreas afins das humanidades. Será talvez esta multiplicidade de abordagens disciplinares a única via para aprofundar o conhecimento do Judaísmo, também ele, sobretudo hoje, plural.
O livro Judeus e Cristãos Novos no Mundo Lusófono é composto por “conjuntos de textos que organizei, estando uma parte alinhada pelo tema da pesquisa histórica dos judeus de matriz portuguesa na diáspora. Há ainda alguns textos centrados na literatura produzida por autores que tenham alguma ligação ao judaísmo português”, disse Marina Pignatelli, professora de Antropologia na Universidade de Lisboa, em declarações à imprensa.
Marina Pignatelli, que também é investigadora do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), disse também que no livro “há um texto, que está um pouco desgarrado mas que tem interesse e está ligado ao tema do judaísmo, que trata da imagem dos judeus no cinema português”.
Judaísmo português: as raízes da religião judaica pelo mundo
Marina Pignatelli adiantou que o livro contém textos de 17 autores, em quatro línguas, nomeadamente português, espanhol, francês e inglês, que retratam as comunidades de matriz judaica portuguesa no Brasil, São Tomé e Príncipe, Moçambique e outros locais, como em Hamburgo ou na costa ocidental de África.
“A diversidade das línguas dos autores dos textos do livro reflete bem o interesse internacional que existe na área dos estudos judaicos em relação à matriz portuguesa do judaísmo”, disse a autora.
O investigador Tudor Parfitt, professor de estudos judaicos da Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidade Londres e membro do Centro de Estudos Hebraicos e Judaicos de Oxford, considerado o “Indiana Jones” britânico, pela sua procura por comunidades judaicas em todos os cantos do mundo, é um dos autores presentes na obra.
A coordenadora disse que a ideia do livro surgiu em 2010, quando decidiu pesquisar as comunidades sefarditas portuguesas, tendo descoberto uma pequena sinagoga em Maputo, com uma pequena comunidade e contactou Tudor Parfitt que a orientou a investigar as comunidades sefarditas em Moçambique e sugeriu que após isso, organizasse um congresso e escrevesse um livro sobre o tema.
Marina Pignatelli acabou por realizar o congresso em novembro de 2015, que contou com a presença de centenas de investigadores. Os textos do livro coordenado por Marina Pignatelli são de investigadores que participaram neste evento, realizado em Lisboa.
“Os investigadores escreveram sobre as suas pesquisas mais recentes em torno do judaísmo de matriz portuguesa, no contexto de antigas colónias portuguesas ou noutros pontos da diáspora sefardita portuguesa”, disse a investigadora.
“Quando se fala no termo sefardita, fala-se muito, em geral, da diáspora judaica espanhola que fugiu da perseguição da Inquisição em Espanha”, acrescentou. Para Marina Pignatelli, este livro serve para “marcar a presença e a importância da diáspora judaica de matriz portuguesa, os sefarditas portugueses, no mundo, tanto quanto a espanhola”.
Em 1946, o rei Manuel I assinou o decreto de expulsão dos judeus de Portugal, como havia acontecido anos antes com os judeus em Espanha, que foram expulsos daquele país em 1492. “Esta matriz portuguesa mostra que o mundo sefardita não é só espanhol, está em paralelo 50/50 (português e espanhol), se quiser. Isto é visível no Brasil, Angola, Moçambique, Macau, Japão, Índia, entre outros locais”, afirmou.
Outros investigadores que participam no livro são Florbela Veiga Frade, investigadora na Universidade Nova de Lisboa, Nancy Rozenchan, da Universidade de São Paulo, Asher Salah, da Universidade Hebraica em Jerusalém, o escritor são-tomense Orlando da Glória Silva Piedade, o pesquisador independente Saul Kirschbaum, o investigador da Universidade de Córdoba Marcos Pelayo e o autor francês Gérard Nahon, entre outros.