9 heroínas da literatura russa que todos deviam conhecer
A literatura russa demarca-se por duas características muito célebres: o volume dos seus livros e o drama das suas histórias. Não importa se estamos a falar de Tolstoy, Dostoievsky ou Thchekov: todos eles se viraram para a tinta e papel para produzir histórias que nem sempre terminam numa nota alegre.
Porém, uma outra característica que tem sido notada por muitos especialistas é a força das personagens femininas da literatura russa. Estas heroínas que são frequentemente as protagonistas das histórias onde entram são sempre vincadas por uma força extrema para triunfar na vida, não obstante todas as adversidades.
Num tributo à literatura russa decidimos compilar neste artigo essas mesmas heroínas. Já abaixo conheça essas personagens fortes, saiba em que livros as pode encontrar e decida assim as suas próximas leituras.
9 heroínas da literatura russa que todos deviam conhecer
Tatyana Larina – Eugene Onegin
Começamos por Tatyana Larina, personagem que encontramos no livro Eugene Onegin, uma obra publicada entre 1825 e 1832, e da autoria do talentoso Alexander Pushkin. Esta obra-prima – que se encontra escrita em verso – não se foca na verdade na história de Eugene Onegin, mas sim nada de Tatyana, uma jovem rapariga inocente proveniente das províncias que se apaixona pelo homem que dá título ao livro. Ao contrário de Onegin, que é um bom vivant corrompido pelos valores europeus modernos, Tatyana incorpora a essência e pureza da misteriosa alma russa, incluindo uma tendência para o auto-sacrifício e o desdém face à felicidade, como sentimos quando rejeita Eugene Onegin, recusando-se a fugir com ele.
Anna Karenina – Anna Karenina
Anna Karenina é o oposto de Tatyana Larina mas não é por isso que deixa de ser uma heroína. Presa a um casamento sem amor, Anna Karenina deixa-se levar pelo coração para fugir com Vronsky, deixando para trás o marido e o filho. Numa jornada que a leva à marginalização social, Anna parece tomar todas as más decisões que, eventualmente, terá de pagar. No entanto, o maior erro desta personagem de Tolstoy não é o caso adúltero que a leva a deixar a família: é o sentimento de derrota que a leva a perder toda a esperança numa solução para os seus problemas, a aceitação de que é uma mulher quebrada e de que apenas a morte a poderá redimir.
Sonya Marmeladova – Crime e Castigo
No livro Crime e Castigo de Dostoiévski, conhecemos Sonya Marmeladova, a antagonista de Raskolnikov, a personagem principal. Sendo ao mesmo tempo uma prostituta e uma santa, Sonya aceita que a sua existência implica uma marcha até ao martírio. Depois de perceber os crimes de Raskolnikov, ela não foge: na verdade, assume como missão salvar a alma do criminoso, encontrando ainda o poder para o perdoar. Todo este livro – e especialmente a personagem de Sonya – é movido por fortes crenças religiosas. Sonya, por exemplo, acredita que o perdão deve ser atribuído a Raskolnikov porque todos os homens são iguais aos olhos de Deus.
Natalya Rostova – Guerra e Paz
Natalya Rostova, personagem de Guerra e Paz de Tolstoy, é o sonho de qualquer homem: é inteligente, espontânea, alegre e divertida. Mais do que qualquer outra personagem nesta lista, podemos sentir que Natalya é real e que se encontra viva de uma forma única. Isto, talvez, porque existem também defeitos na personagem: é caprichosa, inocente e provocadora. No grande livro de Tolstoy acompanhamos o crescimento de Natalya e vemos com a sua personalidade se vai moldando consoante certos episódios da sua vida. Ainda assim, depois de mil páginas e muitas tragédias, é sempre possível encontrar um sorriso nos lábios de Natalya.
Irina Prozorova – Três Irmãs
No início do livro Três Irmãs de Chekhov, Irina, a mais nova, é a típica personagem radiante e cheia de esperança. Enquanto as suas irmãs mais velhas, aborrecidas da vida nas províncias, demonstram o seu desagrado e vontade de sair de casa, a alma ingénua de Irina está sempre repleta de otimismo infinito. Sonha em regressar a Moscovo onde acredita poder encontrar o amor verdadeiro. Mas, quando a oportunidade de se mudar para Moscovo desaparece, Irina não deixa a esperança morrer. No livro, Tchekhov mostra-nos como a vida é uma longa sucessão de momentos aborrecidos, apenas ocasionalmente interrompidos por breves rajadas de alegria.
Liza Kalitina – Home of the Gentry
No livro Home of the Gentry, Turgenev crucifica a personagem de Liza Katalina. Esta heroína, que começa a sua jornada como uma jovem ingénua de coração puro, envolve-se amorosamente com dois homens: um jovem oficial, bonito e alegre e um homem mais velho, triste e casado. A escolha de Liza diz muito sobre a chamada “misteriosa alma Rússia”, uma vez que toma a decisão que a leva para a miséria. Mas acima de tudo, a sua escolha diz-nos que, na vida, a procura pela tristeza melancólica é uma opção tão válida quanto qualquer outra. No final, Liza desiste do amor e entra num mosteiro, abraçando uma vida de sacrifício e privação.
Margarita – The Master and Margarita
Margarita – do livro The Master and Margarita, de Mikhail Bulgakov – é uma personagem incrivelmente bizarra mas que não deixa de ser uma heroína dentro de certos moldes. Começando o romance como uma mulher infeliz, presa a um casamento sem amor, Margarita torna-se amante do seu mestre, assim como a sua musa, acabando por encontrar um poder nesta relação que faz dela uma verdadeira bruxa. Um livro que lida com referências satânicas e demoníacas.
Olga Semenova – The Darling
Em The Darling, Chekhov conta a história de Olga Semenova, uma alma amorosa e gentil que, segundo se diz, vive para amar os outros. Ainda assim, Olga é uma jovem viúva. Não de um casamento, mas de dois. Com nenhum homem disponível para amar, retira-se para viver em isolamento, mantendo apenas a companhia do seu gato. Numa crítica ao livro The Darling, Tolstoy escreveu que Chekhov, com a intenção de gozar com o conceito de mulher sofisticada, tinha criado acidentalmente uma personagem muito cativante. Aliás, Tolstoy foi ainda mais longe, repreendendo Chekhov por ser muito duro com Olga, julgando o seu intelecto e não a sua alma.
Nastasya Filipovna – O Idiota
A heroína de O Idiota, Nastasya Filipovna, é, em si mesma, um estudo sobre a complexidade de Dostoiévski. Nastasya é uma mulher explorada e uma vítima de sua própria beleza: órfã desde de criança, é criada por um homem mais velho para ser mantida, mais tarde, como amante. Mas na sua tentativa de se libertar deste destino, Nastasya acaba por não ter coragem para escapar a um sentimento de culpa que para sempre influenciará o seu futuro. Na tradição da cultura literária russa, a história apresenta à heroína diferentes opções – por norma sobre a forma de homens – para que trilhe o seu caminho. Ainda assim é sempre às forças do destino que Nastasya cede, levando-se a si mesma ao seu próprio fim.