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Livros em papel: no Reino Unido o papel está a crescer e o digital a diminuir

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Livros em papel: no Reino Unido o papel está a crescer e o digital a diminuir

by Eduardo Aranha

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O fim preconizado para o livro em papel – algo que muitos especialistas acreditavam que seria inevitável, atendendo ao facto que o e-book se tornava cada vez mais popular – parece que não passava, afinal, de uma conjuntura errada. Em pleno ano de 2017 o e-book tornou-se banal na maior parte do mundo, é verdade… mas isso não significa necessariamente que vá pôr de vez um fim ao velho livro de papel.

No Reino Unido, os britânicos estão na verdade a deixar de ler livros em digital a uma taxa alarmante, com o número de compras a cair cerca de um quinto das vendas à medida que o fenómeno de “fadiga de ecrã” vai aumentando e dando um novo fôlego ao papel.

As vendas de livros digitais no Reino Unido desceram cerca de 17% – o equivalente a 204 milhões de libras – em 2016. Um número tão baixo alocado para o digital não era registado desde 2011, o ano em que a loucura dos livros digitais se lançou e gerou resultados milionários para a Amazon, que dominava o Reino Unido com o famoso Kindle. Isto significa que se trata do segundo ano consecutivo em que se nota que as vendas dos e-books descem.

“Não diria que o sonho do e-book acabou, mas as pessoas estão claramente a tomar decisões sobre quanto tempo querem passar em frente aos ecrãs”, disse Stephen Lotinga, da Publishers Association, em declarações à imprensa britânica. “Geralmente temos a ideia de que as pessoas estão a ficar cansadas dos ecrãs, ou até mesmo com fadiga de todos os dispositivos que usam ao longo da semana. Em contrapartida, os livros [impressos] oferecem uma oportunidade para que façam uma pausa ao ecrã.”

As vendas de e-books no Reino Unido atingiram o seu pico em 2014, registando o valor de 275 milhões de libras. No entanto, o declínio dos e-books começou a fazer-se sentir em 2016 quando o género mais popular do mercado, o género de ficção, registou quedas na ordem dos 16% e perdas estimadas para 165 milhões de libras.

clássicos da literatura em ebook

Lotinga diz que, embora tenha havido um aumento nas vendas de ebooks em géneros literários como a educação e os títulos académicos, existem certos tipos de livros que as pessoas preferem ler em formato de papel.

 

Entre os bestsellers de 2016, em papel, estiveram títulos de livros para crianças, como o novo livro de J. K. Rowling (Harry Potter e a Criança Amaldiçoada) e ainda o livro de David Williams, que contribuiu para que as vendas de livros impressos e digitais subissem 16%. Quem não ficou também de fora desta lista foi o autor do livro de dietas Joe Wicks, que tem registado grande sucesso no Reino Unido.

“Os títulos que se venderam muito bem em papel, no ano passado, não alcançaram os mesmos resultados em digital”, admitiu Lotinga. “As pessoas preferem dar ou ler livros infantis, como se sucede com Harry Potter, e o mesmo se aplica a géneros práticos como por exemplo livros de cozinha e biografias, que vendem muito bem na impressão em relação ao digital”. As vendas de livros impressos – dos géneros de ficção, não-ficção e títulos infantis – subiram cerca de 9% em 2016.

“Assistimos a um aumento muito marginal nas vendas globais de impressão em 2015, mas no ano passado as pessoas voltaram à impressão em massa”, diz Lotinga.

Mas importa então fazer uma pergunta: por que se assiste a este fenómeno? Existe outras razões para além da fadiga do ecrã? De acordo com Lotinga, o facto do mercado contar com múltiplos  ereaders a preços bastante elevados e a popularidade crescente dos smartphones poderão ter impactado diretamente as vendas dos livros digitais e empurrado de novo os leitores para o papel.

“A ubiquidade dos smartphones com ecrãs maiores parece ter impactado a procura por ereaders”, disse Richard Broughton, analista da Ampere, em entrevista ao jornal The Guardian. “No entanto, para muitos consumidores os ecrãs em smartphones e tablets não são tão propícios para ler, não proporcionam o mesmo conforto.”

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