Malala: o livro que conta a história do Nobel da Paz 2014
Em 2014, o mundo assistiu à condecoração de Malala Yousafzai como Prémio Nobel da Paz. Até então, já todos tinham ouvido falar desta jovem paquistanesa com apenas 18 anos. Porquê? A resposta é simples: porque não se deixou intimidar pelo meio opressivo em que cresceu. Uma arma apontada contra si não foi motivo para que deixasse de defender a sua condição enquanto mulher e estudante. O resultado deixou-a às portas da morte mas ainda assim Malala sobreviveu para contar a história e a sua demanda está só agora a começar.
Mas vamos começar pelo início.
No dia 12 de julho de 1997, na pequena cidade de Mingora, no distrito de Swat, Paquistão, nasce uma rapariguinha na casa da família Yousafzai. O seu nome? Malala. Desde cedo a pequena paquistanesa percebeu a realidade que a rodeava. Incapaz de encontrar um sentido nos costumes paquistaneses, Malala começa a escrever um blog – que contou com o apoio da BBC britânica – quando tinha apenas 11 anos.
Não se tratavam dos caprichos de uma comum rapariga prestes a entrar na adolescência mas sim uma descrição da vida de uma mulher, menor de idade, que vive sob o regime talibã. O pseudónimo Gul Makai, com o qual assinava, era a única proteção de que dispunha por afirmar a sua liberdade de expressão.
Mas o disfarce não durou por muito tempo. Ao ser nomeada para o Prémio Internacional da Criança pelo ativista sul-africano Desmond Tutu, Malala tornou-se então um alvo certo para as forças talibãs. No dia 9 de outubro de 2012, quando regressava a casa na camioneta da escola, pouco depois das 12 horas, um homem, no exterior, mandou parar o veículo. Sem hesitar, terá informado o condutor: ‘A nossa irmã está aí dentro e precisamos de falar com ela’. Ao mesmo tempo, outro entrou pela portas das traseiras e indagou ‘Quem é Malala?’.
Ninguém se atreveu a falar mas a resposta foi dada na mesma. Enquanto todas as raparigas tinham a cara tapada, como dita o costume paquistanês, Malala exibia o rosto sem vergonha. Os olhares das suas colegas viraram-se de imediato para Malala, funcionando como uma denúncia silenciosa e automática, mesmo que inconsciente.
A memória seguinte que Malala tem é de acordar numa cama de hospital, em Birmingham, longe dos pais e sem perceber o que aconteceu. Recuperada, vive hoje em Inglaterra com a sua família. Os homens que atentaram contra a sua vida foram, em abril de 2015, condenados a prisão perpétua.
Aquilo em que Malala acredita
Mas a luta de Malala e das mulheres paquistanesas está longe de terminar. O atentando a Malala não foi o primeiro nem será sequer o último ataque a uma mulher no Paquistão. Mesmo que em cidades como Lahore, Karachi ou Islamabad, as mulheres trabalhem e se assemelhem às mulheres no Reino Unido ou América, as diferenças persistem. As mulheres continuam a depender inteiramente dos homens nas suas famílias. Não têm acesso à educação e mesmo as que conseguem ir à escola têm o futuro traçado.
O papel principal da vida de uma mulher paquistanesa é casar, ter filhos e tomar conta da casa. Não há alternativa ou hipótese de escolha. Para perceberem melhor isto de que estou a falar, no livro é apresentado o episódio em que Malala foi a Karachi e viu pela primeira vez o mar. Logo depois, conhecemos a história da sua tia – irmã do pai – que também foi ver a imensidão do oceano. Ela disse-lhes que nunca o tinha visto porque o marido nunca a tinha deixado. Vivia em Karachi há 30 anos.
É todo este paradigma que Malala quer mudar.
No Paquistão, as mulheres dependem dos maridos e isso é algo pelo qual Malala está disposta a combater. O mundo precisa de saber que as mulheres também são seres humanos. Não está escrito em lado nenhum que devem depender dos homens. Direito ao trabalho, à liberdade de escolha e à educação são conquistas pelas quais vale a pena lutar.
Para o futuro, Malala sabe o que quer: paz. E acredita que a única forma de conseguir a paz é através da educação. Admite que o seu sonho não era ficar famosa ou receber prémios e galardões. ‘O meu sonho era ver a paz em todo o mundo’, confessa. Apesar de gostar de Física e ter considerado uma carreira como médica, tenciona entrar no mundo da política. Está consciente de que é um mundo cheio de mentiras. Ainda assim, quer dedicar-se às pessoas, mesmo que isso possa um dia implicar a sua morte.