Home / Livrarias do Mundo /

O alfarrabista por detrás da livraria MBooks

mbooks

O alfarrabista por detrás da livraria MBooks

by Eduardo Aranha

Share this article

    

Se costuma passar com frequência na estação de metro da Trindade, no Porto, ou até mesmo na estação de Santa Apolónia, em Lisboa, é provável que já tenha passado pela tenda da MBooks.

Trata-se de uma livraria com um espírito ligeiramente diferente: vende livros usados, a preços baixos e está fora dos locais tradicionais de comércio. Porém, está onde é preciso estar: em pontos por onde passam diariamente milhares de pessoas a precisar de uma história. O próprio nome do MBooks provém da palavra Metro, o serviço ferroviário de transporte público da capital e da Invicta.

Neste post, vamos conhecer um bocadinho melhor o homem que está por detrás da MBooks e que, de tal forma apaixonado pelo mundo da literatura, mesmo sem ter a quarta classe, construiu um pequeno império literário de livros usados.

MBooks: livros usados por todo o país

A MBooks é de tal forma famosa que já atraiu “famosos”. Numa entrevista que deu à revista Sábado, José Teixeira Cardoso – o fundador da MBooks – contou que até Marcelo Rebelo de Sousa – o nosso atual Presidente da República e assumido leitor – não resistiu a comprar uns quantos livros, por impulso, há cerca de 10 anos. Nesse dia, José Teixeira Cardoso estava na Alameda da Universidade de Lisboa, junto à faculdade de Direito onde Marcelo dava aulas, a vender livros usados numa tenda.

Em menos de uma hora, fechou negócio: oito sacos cheios por cerca de 100 euros. Carregou-os com um colega até ao carro de Marcelo, estacionado na garagem da Faculdade. Noutra ocasião, vendeu-lhe uma pilha de livros por um valor semelhante, mas dessa vez na Avenida de Berna. Eram tantos livros e tão pesados que o professor pediu ao livreiro para que os transportasse até à igreja mais próxima, a de N. Sra. De Fátima. Marcelo foi buscá-los mais tarde.

Em setembro de 2016 espera lançar-se à estrada com uma carrinha remodelada e mil livros na bagagem.  “Alguns colegas já me chamaram Rei dos Livros. Sou um bocado caixeiro-viajante”, disse José Teixeira em entrevista à revista Sábado. Além das feiras do livro que vai organizado, tem quatro pontos de venda fixos – também está nas estações de Santa Apolónia, em Lisboa, e em Campanhã e no metro da Trindade, no Porto. Às livrarias somam-se dois quiosques em centros comerciais. Cartazes a anunciar promoções estão por todo o lado. Por vezes há até mesmo raridades editoriais entre as estantes!

Além de alfarrabista, a MBooks também é editora. Porém, funciona sobretudo como outlet em zonas de grande movimento. Nascida há uma década, tem 30 funcionários, nove tendas e vende 250 mil exemplares por ano. O livreiro-editor-construtor (porque as tendas são da autoria dele) chegou aqui depois de um historial de vendas porta a porta e na construção civil. Começou com 7 anos a ajudar o pai, negociante de farinha para padeiros. A família vivia próximo de Lamego, sem grandes perspetivas para o futuro. Porém, o cenário escureceu consideravalmente quando diagnosticaram um hematoma no crânio do pai. “Procurou um curandeiro que lhe disse que não podia ajudá-lo e que devia ir ao médico”, contou à Sábado.

 

José, os pais e as quatro irmãs mudaram-se então para Lisboa, em busca da cura para a doença, mas não havia dinheiro para pagar os bilhetes de comboio a todos – tinham-se endividado com os tratamentos. As quatro irmãs e os pais mudaram-se primeiro, deixando José  ao cuidado de uma tia. O jovem fez a viagem no ano seguinte.

MBooks: o percurso de José Teixeira

Quando chegou à capital, mal sabia ler mas já transportava água e fazia serventia a pedreiros. De manhã, ajudava a família a construir a casa na Brandoa; à tarde, ia para a escola. Tinha por esta altura 11 anos. “Aos 17, sabia fazer uma vivenda”, aos 18 fugiu para França para escapar à guerra – andou a monte, com sete homens, durante 15 dias, comeu apenas chocolate e viu gente morrer de cansaço.

Um ano depois de chegar a Paris, foi apanhado pela polícia e recambiado para Tancos, onde cumpriu serviço militar como páraquedista. Voltou para a construção civil em França até sofrer um acidente de trabalho que o deixou com graves problemas de coluna e incapacitado: esteve três meses de cama e dois anos de baixa.

De volta a Portugal pensou ser taxista mas o alvará era muito caro. Então virou-se para as vendas: às terças e quintas corria os minimercados para distribuir bolos secos e tortas de uma fábrica no Catujal; de segunda a sexta entregava enciclopédias ao domicílio. Depois vieram os livros.

Em 1985, José Teixeira Cardoso funda o Sistema J em Lisboa. A empresa direccionou-se para a venda de livros porta a porta e, apesar de se apresentar como uma pequena/média empresa familiar, não tardou a conquistar o seu lugar no mercado.

Em poucos anos foram abertas filiais por todo o país e angariadas mais de 200 vendedoras. A ambição e a seriedade sempre foram os valores mais altos desta empresa, daí em 1990 ter dado o passo para o mercado de edição e distribuição.

POSTS RELACIONADOS

Share this article

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *