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Recordar a vida de Miguel de Cervantes 400 anos depois da sua morte

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Recordar a vida de Miguel de Cervantes 400 anos depois da sua morte

by Eduardo Aranha

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Estamos em pleno século XVI. A Europa prolifera com os descobrimentos e viagens ultramarinas. As colónias europeias do Novo Mundo iniciam uma revolução económica que lança as bases para o capitalismo moderno. A Igreja passa por um processo de Reforma e, mais tarde, por uma Contra-Reforma. A cultura fervilha, mais intensa do que nunca.

Em Espanha, governada pelo rei Carlos V, nasce uma criança no seio da família Cervantes, em Alcalá de Henares,uma província em Castilha. Estamos mais precisamente no ano de 1547. Miguel de Cervantes, filho de um modesto barbeiro-cirurgião e de uma plebeia, chega ao mundo num período conturbado para a sua família. À procura de melhores condições de trabalho, os pais de Cervantes viajam de cidade para cidade no interior de Espanha.

Miguel já era, no entanto, o quarto filho do casal e não o último: seguem-se três irmãos mais novos nos anos que se seguem. Com um lar precário e nómada, o jovem Miguel cresce sem cuidados e confortos. A educação que recebe chega apenas por volta dos 20 anos, dada por um humanista espanhol, Juan López de Hoyos, que lhe incute um amor sem igual pelas artes literárias. Assim que aprende a dominar a escrita, Cervantes mostra rapidamente ser dotado de um talento especial e compõe um soneto em homenagem à rainha Isabel de Valois, esposa do rei Felipe II.

Motivado por outros estudantes e aventureiros com que se foi cruzando, Miguel de Cervantes decide então conhecer novos países. Ao aceitar o convite de um cardeal para servir na sua casa, viaja para Itália onde assiste de perto ao florescimento do Renascimento. Porém, a sua passagem por terras italianas termina quando decide juntar-se ao exército espanhol aos 24 anos.

Miguel de Cervantes: pouca sorte para a guerra, pouca sorte no amor

Após participar na Batalha de Lepanto contra os turcos, na costa oeste da Grécia, Miguel de Cervantes é ferido e perde o movimento da mão esquerda. Do campo de batalha é levado para casa, de forma a recuperar, mas a necessidade de servir o exército fala mais alto e em 1975 junta-se a outra expedição militar que tem como destino o Norte de África. Infelizmente, este é um empreendimento que também não he corre bem: é preso por corsários quando tenta regressar a Espanha.

Esta detenção resulta em cinco anos de sofrimento no cativeiro em Árgel. O resgate imposto pelos corsários turcos é alto e os familiares e simpatizantes que decidem ajudar Cervantes só conseguem amealhar tal quantia cinco anos depois da detenção. Segue-se um regresso melancólico a casa onde é recebido apenas por uma enchente de dívidas. Medalhas, distinções ou promoções militares não chegam: parece ter sido totalmente esquecido pelo exército.

Em 1584, quando tinha 37 anos, casa então com Catalina, uma mulher vinte anos mais nova e a quem falta o espírito habitual de uma esposa tradicional: não tem paciência para a lida doméstica ou apego à família e ao lar. Além disso, é com dificuldade que tolera a filha ilegítima de Miguel de Cervantes, que viveu com o casal. Este casamento, que tinha tudo para não resultar, chega ao fim quando Catalina trai o marido.

Sem fortuna, carreira e esposa, Miguel de Cervantes parte então para Madrid. Trabalhos como a recolha de trigo e azeitona são algumas das tarefas que vai executando para a Invencível Armada – um exército de Felipe II que tinha como objetivo conquistar Inglaterra – ganhar dinheiro. Os tempos livres são dedicados à pena e  ao papel, numa tentativa afincada de terminar o seu primeiro romance, intitulado Galateia, que tinha começado durante o período de cativeiro. É então que consegue publicar o livro, em 1585, e verificar que afinal as letras não traziam a compensação financeira que esperava.

Miguel de Cervantes: cavaleiros e moinhos

Nos três anos que se seguem, escreve cerca de trinta peças de teatro  e começa a receber algum dinheiro com este trabalho. Em 1593, com a destruição da Invencível Armada, perde o emprego e começa a trabalhar como coletor de impostos. É então preso em Sevilha, sobre a suspeita injusta de desvio de dinheiro e, até provada a sua inocência, começa a dedicar-se a uma nova história sobre um cavaleiro chamado  e as suas aventuras erráticas por Espanha.

Com a publicação da primeira parte de Dom Quixote, em 1605, Miguel de Cervantes consegue por fim a consagração literária que tanto almejava. Num ano o livro recebe seis edições e começa a ser traduzido para línguas como o inglês e o francês, fazendo de Cervantes um nome famoso fora de Espanha.

Em 1613, com 66 anos de idade, publica uma coleção de contos curtos a que chama  e, um ano mais tarde, o poema satírico Viagem ao Parnaso. Por fim, a segunda parte de é publicada em 1615, completando sua novela de cavalaria, obra máxima do género que predominou na Idade Média.

Nos últimos anos de vida, refugia-se num convento franciscano, onde acaba por morrer em Abril de 1616.  Em Março de 2015, os restos mortais encontrados numa igreja em Madrid foram confirmados como pertencendo a Miguel de Cervantes. Junto, ao seu corpo foram ainda encontrado os restos mortais de uma mulher que se acredita ser a sua esposa.

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