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Mongólia: a biblioteca itinerante que viaja nas costas de um camelo

Mongólia: a biblioteca itinerante que viaja nas costas de um camelo

by Tiago Leão

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Longe dos e-books ou do acesso à Internet, existem países onde a literatura tem dificuldades em chegar. Se para alguns ler um livro implica apenas ligar o computador ou dirigir-se à biblioteca mais próxima, para outros ler chega a ser um verdadeiro privilégio. É o caso das crianças que vivem nas comunidades rurais do deserto de Gobi. Todavia, tudo seria mais difícil, se não fosse o trabalho de Dashdondog Jamba.

Na luta conta a literacia e motivado pela paixão pela literatura, Dashdondog Jamba é um bibliotecário itinerante que, nos últimos 20 anos, percorreu mais de 50 mil milhas mongóis. Ao todo, não sabe já quantas viagens fez, mas tem a certeza de que foram mais do que muitas. “Às vezes viajamos de camelo, outras de cavalo e levamos um atrelado”, conta. “Agora também temos uma carrinha”.

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A ideia de criar uma biblioteca móvel surgiu no início da década de 90. Em 1992, com o fim do comunismo e a consequente adoção de uma política de mercado livre, ocorreram grandes mudanças na Mongólia. O crescimento do país deveu-se, sobretudo, à aposta em setores lucrativos, o que não era o caso das bibliotecas e da cultura em geral.

A prova mais óbvia deste desinvestimento está na reestruturação dos edifícios: onde antigamente havia bibliotecas infantis, começaram a surgir bancos e agências financeiras. Face a esta mudança, Dashdondog Jamba decidiu agir e criar uma biblioteca que, segundo o próprio, é “um bocadinho diferente das outras”: “as paredes da sala de leitura são feitas de montanhas cobertas por florestas, o teto é o céu azul, o chão é um tapete de flores e a luz vem do sol”.

Desde então, o bibliotecário viaja pelas várias províncias da Mongólia, percorrendo zonas montanhosas, desertos e florestas. Apesar das diferenças entre as várias regiões, o clima do país é ameno no verão e tradicionalmente frio no inverno. Dashdondog Jamba conta, por isso, com os seus dois assistentes, a esposa e o filho, que com ele viajam frequentemente. Para que as crianças possam ler os livros que quiserem, a biblioteca tenta ficar durante algum tempo no mesmo sítio.

 

Cerca de um terço da população mongol vive na capital, Ulan Bator; os restantes dois terços estão espalhados por comunidades nómadas ou rurais. Atualmente, a Mongólia possui uma das menores densidades populacionais do mundo: cerca de 2 quilómetros por cada habitante. Os números explicam as assimetrias existentes no país, reforçando a importância do trabalho desenvolvido por Dashdondog Jamba.

O contributo para a literatura infantil na Mongólia

Além de se ter oposto veemente ao desinvestimento nas bibliotecas infantis e de ter criado uma biblioteca ambulante como resposta, Dashdondog Jamba tem desempenhado um papel importante no universo da literatura infantil da Mongólia.

Juntamente com a distribuição, o bibliotecário é também o responsável pela tradução de muitas obras estrangeiras que até então não estavam disponíveis em mongol. Em simultâneo, Jamba também escreve e até já venceu o prémio para Melhor Livro da Mongólia. Algumas das suas histórias foram usadas em canções, outras inspiraram obras cinematográficas.

Todas as obras publicadas são o resultado de investimento próprio. Como se de um ciclo se tratasse, Dashdondog Jamba utiliza o dinheiro que recebe com as obras já publicadas para publicar mais ainda. Fazendo questão de negar outro tipo de investimento, o bibliotecário trabalha em prole da literatura sem qualquer tipo de compensação pessoal. “A minha devoção às crianças é a minha alegria”, afirmou num comunicado.

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