Nascidos Duas Vezes: a relação de um pai com o seu filho deficiente
Amargo, dramático, irónico e apaixonado: assim se caracteriza o romance de Giuseppe Pontiggia, intitulado Nascidos Duas Vezes, que conta na primeira pessoa a complexa relação de um pai com o seu filho deficiente. Uma viagem extraordinária, bela e verdadeira, que caminha através das nossas limitações e através do amor e da dor.
Esta história tem como figura principal o pai, o Professor Frigerio, que acompanha a evolução do filho, Paolo, desde o seu nascimento até atingir a maturidade, pondo a descoberto o vaivém entre o sentido de responsabilidade, o sentimento de culpa, o desejo de fuga e a aceitação dos limites.
Bem no início do livro é desvendado o porquê do título. Numa consulta ao médico, o doutor diz a Frigerio o seguinte: “Estas crianças são nascidas duas vezes. O segundo nascimento depende de vocês, no que são capazes de lhe dar.” Levando isto a peito, Frigerio começa de imediato a procurar terapeutas, grupos de apoio, uma escola com um ambiente saudável, psicólogos e qualquer apoio que possa assegurar ao seu filho a melhor hipótese de vingar na vida.
Mais do que lidar com as limitações da personagem com deficiência, este é um livro que nos leva ao lado mais intimista de quem vive com deficientes. Nascidos Duas Vezes mostra, aliás, as limitações de um homem são e completamente normal. À medida que a história avança, Frigerio é confrontado com a estranha forma como a sociedade lida com a deficiência do filho e observa os seus talentos surpreendentes. Professor de línguas, percebe ainda as evidentes diferenças que existem entre deficientes e pessoas normais.
O penoso caminho que tem de enfrentar na educação do seu filho, na aprendizagem da autonomia, transforma-se progressivamente também na aprendizagem de uma arte de viver e na acedência a uma nova e mais rica visão da existência.
Nascidos Duas Vezes é dedicado a “todos os deficientes que lutam não para serem normais mas sim eles próprios” e é através do testemunho vivo deste pai que se consegue compreender o mundo em que estas pessoas vivem e o esforço que fazem para não serem olhadas de maneira diferente. “Quem é aquele rapaz que anda cambaleando ao longo dos muros? Vejo-o pela primeira vez, é um deficiente. Penso naquilo que teria sido a minha vida sem ele. Não, não consigo. Podemos imaginar muitas vidas, mas não desistir da nossa”.
Uma memória tocante sobre a paternidade que valeu ao autor italiano Giuseppe Pontiggia o prémio Campiello 2001 e que marcou a sua estreia no mercado norte-americano. Com traços de humor e momentos que nos deixam a pensar no sentido da vida, as personagens de Pontiggia mantêm-se vívidas em nós mesmo depois de terminarmos o livro.
Quem foi o autor de Nascidos Duas Vezes?
Nascido em Como, Itália, a 25 de setembro de 1934, Giuseppe Pontiggia mudou-se para Milão quando tinha catorze anos. Em 1959 graduou-se na Universidade Católica de Milão com uma tese sobre Italo Svevo. É assim que, depois de uma primeira antologia de contos publicada em 1959, o autor decide dedicar-se inteiramente à escrita a partir de 1961.
Com um primeiro romance publicado em 1969, intitulado de L’arte della fuga, foi apenas com o livro Nascidos Duas Vezes, de 2001, que conseguiu reconhecimento internacional. Em 2003, na sequência um acidente cardiovascular, morreu em Milão.