Oneworld: a editora que publica livros que acrescentam algo ao mundo
Mesmo tratando-se de uma pequena editora independente, com sede em Londres, a Oneworld Publications é grande o suficiente para correr as bocas do mundo. Com mais de trinta anos de história tem dado espaço a autores como Marlon James e Paul Beatty, distinguidos nos últimos dois anos com o Man Booker Prize.
Estes dois escritores de etnia negra, que tiveram os seus romances publicados na Oneworld Publications, permitiram à editora alcançar um recorde: ser a primeira editora independente a arrecadar dois Bookers em anos consecutivos. O recorde tinha sido estabelecido uma vez em 1988 e 1989 quando Peter Carey e Kazuo Ishiguro, ambos publicados pela Faber & Faber, arrecadaram igualmente dois Bookers.
Ainda assim, a dimensão da Faber & Faber, quando posta lado a lado com as 23 pessoas que compõe a Oneworld, torna esta vitória da editora independente muito mais importante. O que nos leva à questão: quem está por detrás da Oneworld Publications?
A história desta editora começou na década de 1970. É por esta altura que Juliet Mabey e Novin Doodstar se conhecem. Por esta altura, eram os dois estudantes: ela estudava antropologia enquanto ele se dedicava à contabilidade. De uma amizade nasceu uma relação que culminou num casamento. A vida prossegue com a mudança do casal para Chipre, onde Novin aceita um emprego e onde o casal começa a construir a sua família.
Mas a situação muda em 1986. Fazendo as malas, casal regressa ao Reino Unido e fixa-se em Oxford. Juntos, decidiram que o regresso às origens implicaria uma outra mudança: uma alteração de carreira. Juliet, que até então tinha assumido o papel de mãe e dona de casa, junta-se ao marido para criar uma editora de livros de não-ficção.
Oneworld Publication: a génese do projeto editorial
Inicialmente, o projeto era extremamente doméstico: tudo se limitava ao computador instalado na sala de jantar. Entretanto, Juliet foi especializar-se em edição, fazendo um pequeno curso. E é assim que nasce a Oneworld Publications. Conforme contou ao jornal digital Observador, Juliet Mabey contou que a ideia de criar uma editora independente focada em livros de não-ficção partiu de uma necessidade.
“Percebemos que não existiam livros de não-ficção competentes, bem escritos e dirigidos ao grande público no mercado”, contou Juliet Mabey ao Observador. O exemplo que a editora deu é muito claro: para encontrar conteúdo sobre temáticas mais pesadas, como psicologia, era necessário recorrer a obras de grandes autores como Freud ou a textos académicos de grande densidade teórica.
De forma a alavancar o projeto, o casal de editores decidiu inverter o processo editorial: em vez de esperar o contacto de autores com a intenção de enviar manuscritos, Juliet e Novin procuraram académicos e especialistas para apresentar um desafio: trabalharem ideias e problemas atuais, que pudessem ser adaptados para livro e assim permitissem à editora reunir conteúdo e preparar a publicação de livros. O método podia ser demorado, mas nesta fase o que o casal queria era assegurar qualidade, não quantidade.
Hoje, a Oneworld orgulha-se do catálogo que reuniu. Uma breve visita ao site será suficiente para constatarmos os muitos géneros publicados pela editora. Dentro da não-ficção, género de excelência da Oneworld Publications, encontramos obras sobre temas como arte, hsitória, antropologia, negócios, mas também política, humor e auto-ajuda.
Entretanto, a editora também se voltou para a Ficção, publicando desde 2009 obras originais em língua inglesa e títulos traduzidos. A decisão foi tomada depois de Juliet Mabey ter chegado à conclusão que, ao longo dos anos, tinha lido “muitos romances bons” que gostaria de ter sido ela a publicar, como romances de autores como Vikramn Seth, Chimamanda Ngozi Adichie e Monica Ali. Ainda assim, a Oneworld Publications procurou livros que acrescentassem algo à editora e fossem de encontro aos temas publicados ao longo dos anos.
Mais recentemente, Juliet e Novin decidiram apostar em autores estrangeiros. “Temos romances de mais de 30 países a serem traduzidos”, confessou Juliet ao jornal Observador. “E para o ano vamos lançar dois romances traduzidos do português — A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, da autora brasileira Martha Batalha, e Prometo Falhar, de Pedro Chagas Freitas. Essencialmente, quero construir um catálogo de qualidade, muito diverso. E se um dos nossos romances ganha um prémio, isso beneficia o catálogo todo.”
Os dois autores da Oneworld Publications que venceram o Prémio Man Booker são Marlon James, autor de A Brief History of Seven Killings e Paul Beatty, o primeiro norte-americano a vencer o Booker Prize com o livro The Sellout.