10 personagens irritantes da Literatura que adoramos odiar
Deixe-me avisá-lo de antemão que o título deste artigo pode induzir em erro: ao longo dos próximos parágrafos não falarei necessariamente dos maus da fita que tanto odiamos nas boas histórias. Sim, às vezes (na maior parte dos casos!) essas são de facto personagens que devemos odiar por fazerem coisas horríveis ou por serem elas mesmas péssimas pessoas.
Mas às vezes conseguimos também odiar protagonistas inocentes – ou que tentam sempre parecer inocentes – que nos empurram para além do ponto de rutura. Às vezes são tão românticos que ficamos enjoados e só lhes queremos dar um par de estalos para que acordem para a realidade.
Por essa mesma razão, ao longo dos próximos parágrafos revisitamos alguns dos nossos livros favoritos e apontamos algumas das personagens mais irritantes de sempre… mas que ainda assim têm um lugar no nosso coração pelos enredos fabulosos que nos permitiram acompanhar.
10 personagens irritantes da literatura que adoramos odiar
1 – Dolores Umbridge de Harry Potter
Os livros de Harry Potter deram-nos uma galeria de personagens muito fácil de odiar. Malfoy. Snape. Voldemort. No entanto, em Harry Potter e a Ordem de Fénix é introduzida pela primeira vez a Professora Umbridge que rapidamente se torna icónica na saga: esta personagem é a mistura perfeita de maldade e burocracia. Sem coração, intolerante e apaixonada por gatinhos, Umbridge faz-nos lembrar os nossos piores professores. Felizmente, J. K. Rowling castiga esta hedionda personagem por nós.
2 – Joffrey Baratheon de As Crónicas de Gelo e Fogo
Os espectadores que acompanham a série Game of Thrones odeiam facilmente esta personagem… mas a forma como George R. R. Martin nos descreve Joffrey no livro torna ainda mais terrível o príncipe herdeiro dos Sete Reinos. Após algumas páginas, todos queremos estrangulá-lo. Todos nós queremos decapitá-lo. Mas odiá-lo é extremamente divertido, porque ao contrário de outras personagens Joffrey não tem qualidades redentoras. É raro termos uma personagem que é uma criança, um rei e ainda assim incapaz de suscitar empatia em quem quer que seja.
3 – Dorian Gray de O Retrato de Dorian Gray
O Retrato de Dorian Gray tem uma moral bastante clara: não sejas um idiota vaidoso como Dorian Gray. A personagem principal vende a sua alma para obter eterna juventude, e aproveita-se desse facto para ser uma péssima pessoa, com muita arrogância e pouca humildade, com todos os outros que o rodeiam. Ainda assim, há algo em Dorian Gray e na escrita de Oscar Wilde que mantém o leitor preso às páginas do livro, deixando-o por vezes emocionalmente confuso e sem perceber o que realmente sente face à personagem.
4 – Holden Caulfield de The Catcher in the Rye
Holden Caulfield é possivelmente a personagem “coming of age” mais conhecida da literatura norte-americana. No entanto, muitas pessoas parecem sentir alguma aversão face a Holden. A personagem principal parte numa viagem, fugindo do colégio onde se encontra e, mesmo tendo uma razão legítima para estar deprimido, mantém um espírito cínico que nos começa a irritar passado um pouco e com vontade de lhe dizer: há problemas mais graves na vida para além dos teus.
5 – Caroline Bingley de Orgulho e Preconceito
Muitos fãs de Orgulho e Preconceito concentram o seu ódio de estimação irracional em personagens como Kitty e Lydia Bennet. Ainda que estas sejam de facto personagens irritantes, Caroline Bingley é a verdadeira vilã deste romance. A irmã de Mr. Bingley, o pretendente de Jane, está constantemente a fazer troça da família Bennett e a tentar evitar que outras pessoas encontrem o amor verdadeiro. Mesmo já sendo rica e letrada, Caroline é a prova de que as circunstâncias sociais não previnem qualquer pessoa de ser desagradável.
6 – Scarlett O’Hara de Gone with the Wind
No início do filme Gone with the Wind, Scarlett é uma adolescente egocêntrica, mas quem não o é nesta fase da vida? No entanto, quando cresce e se torna numa mulher arrogante e calculista, percebemos que Scarlett não é propriamente uma boa pessoa. Ou pelo menos que não a deveríamos ver como tal. A personagem incorpora o modo de vida do Sul dos Estados Unidos antes da Guerra Civil, roubando o noivo da irmã e mostrando-se pouco incomodada com a morte dos seus maridos. É tão fácil odiá-la por ser uma pedra fria, vaidosa e manipuladora… e ao mesmo tempo é extremamente fácil adorá-la!
7 – Iago de Othello
Há por aqui alguém que não tenha odiado Iago após ler Othello ou ter visto a peça representada? Ao longo da história a personagem vai envenenando a mente das pessoas, arruinando os seus casamentos, apenas porque pode. Entretanto, o seu ódio por Othello tem as suas próprias razões (ciúme, racismo e até mesmo possível atração sexual), mas é principalmente irracional. O que faz dele um vilão horrível e tão fácil de amar: mesmo que seja tão mau, e as suas mentiras provoquem tanto mal, consegue ao mesmo tempo ser apreciado pela incrível história que nos dá.
8 – Tom Buchanan de O Grande Gatsby
Muitas pessoas odeiam Daisy Buchanan de Great Gatsby pela decisão que toma no final. Mas porquê odiar tanto Daisy quando podemos simplesmente odiar Tom? Afinal de contas, é rico, racista e cruel: reúne todas as características necessárias para que o possamos odiar. Entretanto, continua a ser divertido odiá-lo, porque é a personagem melhor estruturada do livro. Sempre tão consciente de si e da sua riqueza, não demonstra sequer uma pinga de preocupação para com a felicidade de Daisy.
9 – Heathcliff e Cathy de Wuthering Heights
Sim, estas duas personagens conseguem ser problemáticas e provocar sentimentos contraditórios na nossa cabeça à medida que lemos o livro. O romance que vivem é intenso, sim, mas ambos são pessoas terríveis se olharmos com atenção para o enredo. Mesmo que se amem um ao outro, decidem ignorar tais sentimentos para se atacarem um ao outro e tentarem arruinar as suas vidas. Onde está o sentido nisto? É óbvio que temos de os odiar a certo ponto.
10 – Amy Dunne de Gone Girl
Amy Dunne de Gone Girl faz Scarlett O’Hara parecer uma santinha. Claro que Amy é uma assassina, quando Scarlett não era nada mais do que uma bully, mas por ser tão deliciosamente fria e calculista se torna tão fácil amar esta personagem. Mesmo que recorra a todos os clichés da típica femme fatale, Amy usa o sexismo como arma para se vingar do marido e conduzi-lo diretamente à pena de morte.