A Grande Guerra Pela Civilização de Robert Fisk
No livro , Robert Fisk, o mais famoso repórter britânico no Médio Oriente, explica com sabedoria as raízes dos acontecimentos das últimas décadas em relação ao conflito mundial que teve apenas mais um episódio em Paris. Infelizmente, as conclusões são péssimas: todos temos culpa no cartório desde há muitos longos anos.
Na verdade, a resposta a este grande problema da Humanidade não se encontra facilmente. Temos de recuar quase um século, até ao final da I Guerra Mundial, para entendermos as relações de força estabelecidas que determinaram o futuro do (nosso) Mundo.
É uma viagem profunda aquela que Robert Fisk nos proporciona ao longo de 1230 páginas. Sim, literalmente é o que alguma vez li, e não digo isto apenas pela quantidade de palavras e páginas. É mesmo o maior livro que alguma vez li, porque consegue transmitir numa escrita pungente e poderosa uma visão incisiva e inquietante sobre o antes, durante e depois do 11 de Setembro de 2001, colocando em perspectiva tudo aquilo que me ensinaram até à data da leitura da obra, que foi editada em 2009.
Queres saber por que razão o Médio Oriente é há tantos anos local de guerras sangrentas, que tendem a piorar cada vez mais? Para isso terás de entender primeiro como o Mundo ficou estilhaçado depois da I Guerra Mundial. O livro de Robert Fisk parte desse ponto de princípio histórico para depois explicar todos os outros grandes conflitos que decorreram no Médio Oriente até à atualidade: desde a formação do Estado de Israel (ainda talvez o maior argumento actual para recruta de terroristas islâmicos), até à segunda intervenção norte-americana no Iraque, Robert Fisk explica como todos os estados ocidentais se sentaram à mesma mesa e comeram da mesma comida com os ditadores sanguinários que imperaram no Médio Oriente.
A Grande Guerra Pela Civilização: muito mais do que um livro
Devido ao facto de permanecer há dezenas de anos como correspondente do periódico inglês The Independent, Robert Fisk tem uma grande vantagem para explicar a sua visão dos acontecimentos no Médio Oriente: vive no Líbano há mais de 30 anos, local a partir de onde assina notícias regularmente sobre esta região do globo e não só.
Por causa da natureza do seu trabalho e por estar tão perto dos factos, o jornalista inglês conseguiu reunir no um fio condutor sobre os atos e os intervenientes que têm marcado cinicamente a História da Humanidade, com particular incidência na luta pela conquista do Médio Oriente. Inevitavelmente, o autor fala também (muito e bastante) da cobardia e ignorância dos jornalistas ocidentais, que afectam muito claramente o escrutínio das multidões emocionadas em todo o planeta.
O mais sensacional deste livro é que numa mistura de crónicas com relatos de correspondente de guerra, Robert Fisk evidencia claramente que não aprendemos com os erros do passado. Aliás, cada vez que vejo um novo atentado do Estado Islâmico fico obecado com este pensamento: não aprendemos nada com os erros do passado! E Robert Fisk, que fez três entrevistas em pessoa com Osama Bin Laden, é o principal responsável por eu duvidar sempre (mesmo sempre) de toda e qualquer notícia “oficial” sobre este tema.
Quem é Robert Fisk?
Robert Fisk é filho de um ex-soldado britânico da I Guerra Mundial e estudou jornalismo na Inglaterra e Irlanda. Após cobrir os acontecimentos no Ulster foi enviado numa primeira missão internacional para… Portugal, onde sentiu o pulso dos portugueses após a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Pouco tempo depois foi transferido para o Médio Oriente, onde permanece até hoje. Após vários ligado ao jornal The Times em 1988 passou a assinar reportagens no The Independent, ao serviço do qual acompanhou a guerra civil do Líbano (1975), a invasão soviética do Afeganistão (1979), a guerra Irão-Iraque (1980-1988), a invasão israelense do Líbano (1982), a guerra civil na Argélia (1991), as guerras dos Balcãs e a Primeira (1990-1991) e a Segunda Guerra do Golfo Pérsico (2003).
Autor de outras obras relevantes como Pity the Nation: The Abduction of Lebanon e In Time of War: Ireland, Ulster and the Price of Neutrality 1939-1945, Robert Fisk é também conhecido pela cobertura do conflito israelo-palestino, sendo um claro defensor da causa palestiniana e do diálogo entre os países árabes, Irão e Israel. Além de ser um dos maiores especialistas nos conflitos do Médio Oriente e uma lenda viva do Jornalismo, o repórter inglês foi decisivo para a divulgação internacional dos massacres na guerra civil argelina e nos campos de refugiados de Sabra e Chatila no Líbano, contribuindo para a denúncia dos assassinatos promovidos por Saddam Hussein, os ataques de Israel durante a Intifada palestiniana e os actos ilegais do governo dos Estados Unidos da América no Afeganistão e no Iraque. Por todas estas razões, Robert Fisk é o correspondente estrangeiro britânico mais premiado de sempre.
Todos estes conflitos estão retratados com rigor no livro A Grande Guerra Pela Civilização, perfazendo por isso uma obra singular, completa e esclarecedora sobre as lutas que marcam os nossos dias. Considero este livro de leitura obrigatória para todas as pessoas interessadas no Médio Oriente e nos fenómenos que têm avassalado o Mundo e por essa razão não podia deixar de recomendar a leitura urgente (ainda demora a ler…) de A Grande Guerra Pela Civilização.
E então julgo que passarás a ver o Mundo tal como ele é mais perto da sua triste e verdadeira realidade (pelo menos foi isso que aconteceu comigo). Mas sobretudo este transmitiu-me uma nova capacidade de reflexão sobre as guerras que infundam os nossos medos e terrores enquanto sociedade, conferindo algum conforto sobre os actos incompreensíveis que assistimos nos últimos anos. Espero que aconteça o mesmo contigo, pois se ainda estás a ler este texto é porque tens um desejo profundo de compreensão sobre este tema tão vasto e complexo. Por isso este livro é ideal para ti! Tal como O Palestiniano, considero que a informação que emana de A Grande Guerra Pela Civilização é essencial para quem deseja entender os atentados do Estado Islâmico.