Saga: a space opera que me fez voltar à Banda Desenhada
Há cerca de um ano e meio, cruzei-me com uma história que vários amigos meus andavam a ler no Goodreads: Saga. Inicialmente, não percebi bem o porquê de todo o falatório e, apesar de ver a capa de relance, nem me dei ao trabalho de ler a sinopse. Afinal de contas, sabia que se tratava de uma banda desenhada e, mesmo que tenha lido meia dúzia de livros de Astérix e comics da Disney quando era mais novo, aquele não era propriamente o meu género literário favorito.
No entanto, na altura em que Star Wars chegou ao cinema, apeteceu-me ler algo relacionado com space opera e fui aconselhar-me com uma das minhas melhores amigas, que é uma verdadeira especialista na matéria desde criança. Foi assim que insistiu para que lesse pelo menos a primeira edição de Saga – que não devia ter mais de 30 páginas. Só aí percebi que não me tinha rendido apenas à banda desenhada, mas que a história era capaz de me manter preso aquelas páginas sem que desse pelo tempo a passar, tal como acontece com os melhores livros e séries televisivas. E assim, li o primeiro volume em poucos dias, e logo depois o segundo, o terceiro e por aí fora.
Saga é uma história em banda desenhada que se apresenta no melhor estilo de space opera, acrescentando um toque único de fantasia. Da autoria do escritor Brian K. Vaughan e da ilustradora Fiona Staples, Saga começou a sair originalmente como uma revista mensal pela Image Comics. Entre as principais influências por detrás da série estão filmes como Star Wars e o herói da banda desenhada Flash Gordon, assim como conceitos concebidos pelo próprio Vaughan quando, na escola, se cansava das aulas de Matemática.
Frequentemente descrita pela crítica especializada como um “encontro entre Star Wars e A Guerra dos Tronos”, Saga conta-nos a história de Alana e Marko, dois soldados em lados opostos numa longa e devastadora guerra intergaláctica. Como se o romance entre os dois não fosse por si só proibido, o facto de Alana engravidar e dar à luz uma pequena rapariga chamada Hazel – uma mistura de ambas as raças dos pais – obriga esta família a escapar de todas as forças que os querem deter. É assim que se lançam numa série de aventuras e peripécias, narradas pela pequena Hazel.
E por que razão vale mesmo a pena ler Saga? Bem, aqui ficam 5 razões.
1 – Perfeito para fãs de Star Wars
Como dissemos acima, Saga é uma série de fantasia e ficção científica, situada numa galáxia repleta de magia e monstros, assim como naves espaciais e armas de laser. O enredo principal foca-se na guerra que se trava entre o planeta Landfall, cujos habitantes têm asas, e os residentes da Lua, cujo povo se diferencia por ter cornos na cabeça. Este conflito, entretanto, disseminou-se por todo o universo.
Os heróis, que escapam devido ao seu amor proibido, vêm-se no centro de batalhas épicas, perseguidos por caçadores de recompensas e até mesmo por um bizarro robot implacável. Tal como acontece com Star Wars, entramos numa realidade extremamente vívida e real, mesmo que seja apenas fantasia.
Por outro lado, esta não é uma mera repetição dos enredos de Star Wars: os criadores de Saga fizeram um excelente trabalho em criar algo novo. Não há nenhuma força governamental autoritária, por exemplo, e não é possível distinguir um lado bom de um lado mau: apenas guerra e violência entre a Lua e Landfall, com todos os outros planetas à mistura. As próprias personagens principais, Alana e Marko, eram soldados em lados opostos do conflito até se apaixonarem. Não há aqui demandas heroicas para travar a guerra: apenas uma luta constante para sobreviver outro dia e garantir o futuro da pequena Hazel.
2 – É tudo completamente louco
Têm a noção do quão criativa é Saga? Bem, eu não tinha essa noção até ler o livro, mas garanto-vos que a criatividade de Vaughan e o talento de Staples para ilustrar todas as ideias mirabolantes que saem daquela cabeça prometem um espetáculo a sério. Para que fique com algumas ideias acerca dos detalhes mais absurdamente deliciosos desta história, eis aqui alguns exemplos: a nave espacial que permite a Marko e Alana escapar é uma árvore sem painéis de controle (vai para qualquer lado, desde que saibamos fazer o pedido certo).
A babysitter da pequena Hazel é o fantasma de uma rapariga de 14 anos… à qual falta sua metade inferior, já que morreu após pisar uma mina terrestre. A imagem dos seus intestinos a baloiçar por debaixo da tshirt não é propriamente a imagem mais agradável para um bebé. Existem pessoas a montar cavalos-marinhos, programas televisivos futuristas, monstros gigantes com testículos maciços, um gato que diz “Mentira” sempre que algo mente à sua frente e uma Mulher-Aranha que é implacável e incrivelmente sedutora.
É de loucos, certo?
3 – Diversão garantida
Portanto… até agora já disse que Saga é uma série criativa, romântica, sexy, cheia de ação e emocionante – mas esta é também uma história extremamente divertida. Ao longo da minha leitura foram vários os momentos em que me ri em voz alta, incapaz de conter o riso após certas piadas ou momentos ridículos e chocantes. Logo a primeira caixa de diálogo da banda desenhada – que associa o parto de uma criança a defecação – deixa-nos com um sorriso nos lábios, e curiosos para saber o que raio vai acontecer a seguir.
4 – É “realista”
Depois de tudo o que disse até agora pode soar estranho chamar a esta banda desenhada “realista”. Mas a verdade é que ao lermos Saga sentimos uma autenticidade que nos faz acreditar na personagem e na história. Marko e Alana não são engrenagens presas a uma longa jornada de um qualquer herói: são duas pessoas comuns, como muitas outras, que se amam tremendamente, que discutem como casais a sério, se provocam um ao outro e tomam sempre as melhores decisões a pensar na sua filha. Entretanto, até os “vilões” de Saga têm as suas próprias motivações completamente compreensíveis.
Mas acima de tudo, Saga é realista porque se foca em novos pais que tentam proteger a filha de um mundo que às vezes pode ser terrível.
5 – É a única hipótese de conhecer a história de Saga
Brian K. Vaughan e Fiona Staples não têm nenhuma intenção de vender os direitos de autor de Saga para uma adaptação ao pequeno ou grande ecrã. Como Vaughan revelou já em inúmeras ocasiões, Saga foi criada especificamente para ser uma banda desenhada, uma história que a seu ver só poderia ser contada neste formato, graças ao alcance épico e ao conteúdo ultrajante publicado. Na verdade, logo aquela primeira frase polémica de Saga parece romper qualquer possível ligação com Hollywood, mesmo antes de tal ligação desistir. Teria algum realizador coragem de produzir um filme com um conceito tão diferente do que estamos habituados?
Por essa razão, se quiser experimentar Saga esta é a sua única hipótese. Deixamos abaixo os links para os primeiros volumes da série nas principais livrarias online para que encontre o melhor preço e receba o livro em casa muito em breve.