The Right Short: uma história contada em 280 tweets
A rede social Twitter tem uma particularidade muito específica: todas as suas publicações devem conter no máximo 140 caracteres. O utilizador pode escrever estados, partilhar momentos do seu dia e até mesmo imagens e vídeos. Mas o limite de caracteres está sempre lá.
Ao conhecer este limite, o editor do escritor David Mitchell teve uma ideia brilhante: e se Mitchell escrevesse um livro que estivesse dividido em segmentos de 140 caracteres, ou seja, em tweets? A ideia seria aplicada durante a fase de promoção do novo livro do autor, intitulado The Clock Bones. Porém, para grande surpresa de todos, a The Right Short acabou por se tornar num grande sucesso por si só.
Tudo aconteceu durante uma semana. A cada dia, David Mitchell sentava-se no computador e, após abrir o Twitter, lançava 20 novos posts. A pouco e pouco, foi alimentando os seus seguidores com uma nova história. O tweet que veio fechar a história foi o número 280.
Com o título The Right Short, o conto fez-nos perceber que a forma como lemos e conhecemos histórias pode ser transformada pela Internet. Primeiro, por ser em segmentos de 140 caracteres as pessoas liam com facilidade. Segundo, a informação estava num meio a que os utilizadores a priori já conheciam. E, em terceiro, o autor estava muito próximo do público, especialmente daqueles que preferem o mundo da Internet em detrimento da literatura.
E não, David Mitchell nunca se considerou um adepto das redes sociais. Aliás, só criou uma conta no Twitter quando chegou a altura de publicar a sua The Right Short. Ainda assim, quando o seu editor pensou na ideia, decidiu aceitar o desafio rapidamente, decidido a trilhar uma ponte entre a sua arte e os seus fãs.
A história por detrás de The Right Short
Escrever uma história em segmentos de 140 caracteres é uma boa ideia, sim, mas ninguém disse que era fácil. Como contou David Mitchell em entrevista à BBC, criar uma história em frases pequenas, que se articulem entre si para fazer sentido, é mais complexo do que parece. Já se imaginaram a usar o Twitter para contar uma história com princípio, meio e fim? Com personagens e ação? Com descrições e reflexões?
Para os que ficaram curiosos em ler a história, podem encontrar AQUI versão integral de The Right Short. Ao longo de 280 tweets, regressamos ao ano de 1978 e seguimos a história de um adolescente que decide usar um medicamento relaxante, Valium. É toldado pelos efeitos deste comprimido que o jovem rapaz inicia uma odisseia pela sua própria vida, descrevendo pessoas e momentos que encontrou.
David Mitchell admite que um dia poderá repetir a experiência. Para já, preferiu fazer log off das redes sociais para se dedicar aos seus próximos trabalhos literários. ‘Foi realmente difícil’, contou Mitchell em entrevista à BBC. ‘Mas gosto destas ‘camisas de forças’ e talvez precise do limite imposto por esses ridículos 140 caracteres para inventar algo novo’.
David Mitchell é um dos maiores nomes do universo literário britânico da atualidade. Até hoje foi condecorado com vários prémios de distinção, como o Granta para Melhor Jovem Romancista Britânico e o John Llewellyn Rhys Prize. Cloud Atlas, o livro que inspirou o filme homónimo, é o seu título mais conhecido.