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Uma Morte Súbita: o início do lado adulto de Rowling

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Uma Morte Súbita: o início do lado adulto de Rowling

by Eduardo Aranha

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Com o último livro de , em 2007, a britânica J. K. Rowling encerrou um capítulo da sua vida. Em 2010, voltou a lançar-se como escritora mas desta vez com algo que ultrapassa as barreiras do mundo mágico tão conhecido de miúdos e graúdos.

The Casual Vacancy, traduzido em Portugal para , é o primeiro romance adulto da escritora e apresenta-nos uma realidade brutal, com personagens que podiam ser nossos vizinhos e que não têm medo de dizer palavrões ou de fazer sexo.

A história passa-se numa pequena vila fictícia, chamada de Pagford, situada algures na Grã-Bretanha. Quando Barry Fairbrother morre e deixa um lugar no conselho da Junta de Freguesia, os conterrâneos começam imediatamente uma guerra pela conquista desse lugar vago deixado por aquela morte tão súbita. Cada candidato tem o seu interesse pessoal, mas o vencedor terá o direito de votar numa questão debatida na vila há anos: será que podem excluir da freguesia o pequeno bairro social que inesperadamente proliferou nos subúrbios?

Enquanto Pagford é a típica vila britânica, com os seus ideais conservadores, casas vitorianas e chás das cinco, Fields é o terrível bairro social coberto com graffittis e habitado maioritariamente por drogados. O que o vencedor das eleições pode decidir é se Pagford se pode livrar daquela mancha no bom nome da vila ou se deve continuar a investir nela.

Uma Morte Súbita: um mundo de assimetrias

Nesta guerra fria, a Internet substitui a varinha quando as personagens entram em batalha. E há corrupção, tal como se faz na boa política. Existem fantasmas, mas desta vez não são os mesmos que em tempos percorreram a escola de Potter; encontramos casos do dia-a-dia, casamentos a ruir, bullying nas escolas e dramas familiares que alimentam os mexericos das coscuvilheiras.

Em , as personagens adolescentes têm novamente destaque, talvez até mais do que as personagens adultas, porque de uma forma incrível provam a sua maldade e traçam as suas próprias armadilhas. E é todo este enlace de acções, o cruzamento das personagens entre Pagford e Fields, que acaba por conduzir a um fim catársico ao som de música pop.

Na minha opinião,  é uma boa estreia de Rowling no mundo da literatura adulta. Por um lado, acredito que tinha sido a oportunidade para ela escrever tudo aquilo que nunca pôde escrever em Harry Potter, para se libertar da fantasia e ser mais realista com o mundo. Teve a sua oportunidade para dizer palavrões e para quebrar o tabu da sexualidade.

Mas, por outro lado, acho que descarregou neste livro uma série de temas que seria difícil encontrar num círculo tão pequeno como uma vila: auto-mutilação, obsessão compulsiva, violação, drogas, entre uma série de outros.

Para mim, que cresci a ler Harry Potter, este livro foi sem dúvida uma surpresa e um marco na carreira da autora. Rowling consegue, definitivamente, escrever muito mais do que para além do rapaz que vivia debaixo de um armário nas escadas.


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