Virginia Woolf: a vida tormentosa da escritora que “ouvia vozes”
A escritora britânica Virginia Woolf nasceu no dia 25 de janeiro de 1882, numa elegante casa em Kensington, Londres (Reino Unido), propriedade da família Stephen, então muito distinta na sociedade. O facto engraçado desta história é que os pais de Virginia só se casaram após enviuvarem de primeiros casamentos, dos quais já tinham filhos.
O pai, Sir Leslie Stephen, era então um renomado historiador e autor, assim como uma das figuras mais proeminentes da época dourada do alpinismo. A mãe, Julia Stephen, tinha nascido na Índia e trabalhado como modelo para um grupo de pintores pré-rafaelistas. Enfermagem e escrita faziam também parte do seu percurso profissional.
Apesar de dois dos irmãos de Virginia Woolf terem sido enviados para Cambridge para prosseguir os seus estudos, as raparigas da família foram confinadas ao ambiente doméstico e ensinadas entre os livros da biblioteca vitoriana da família (não que tal tenha limitado os horizontes de Virginia Woolf). Os Stephen tinham excelentes contactos entre os meios artísticos da época e promoveram desde sempre a arte da escrita e uma educação de qualidade para as filhas.
É assim que, ainda em criança, Virginia Woolf começa um jornal familiar para documentar alguns dos episódios mais anedóticos da sua família. Uma parcela deste espírito feliz e alegre começa a desaparecer quando, aos 6 anos, sofre um terrível trauma: dois dos seus meios-irmãos, filhos do primeiro casamento do pai, abusam sexualmente de Virginia e da irmã Vanessa. Não muito depois, a morte da mãe e a entrada na adolescência conduzem a um esgotamento nervoso, agravado com a morte inesperada da irmã Stella.
Ainda assim, Virginia Woolf entra no King’s College of London e inicia um curso onde aprende alemão, grego e latim. É neste meio que conhece alguns movimentos feministas e literários aos quais não se tarda a juntar. Em 1904, tem um novo esgotamento nervoso (o pior até então) na sequência da morte do pai. O episódio é de tal forma grave que a família se vê forçada a internar Virginia durante um breve período.
A vida de Virigina Woolf ao lado de Leonard Woolf
Com a morte dos pais, Vanessa e os seus irmãos Adrian e Thoby decidem vender a casa em Kensington e mudar-se para um espaço mais modesto em Bloomsbury. Virginia acompanha-os. Aí, nesses subúrbios londrinos, integram o famoso Grupo Bloomsbury (um círculo de intelectuais e artistas conhecidos principalmente por pregarem uma partida à Marinha Real Inglesa). Entre tais figuras distintas encontra-se o escritor Leonard Woolf, que assume de imediato um interesse particular por Virginia Woolf. O interesse é retribuído e os dois casam em 1912.
A carreira literária de Virginia começou alguns anos depois do matrimónio. Em 1915, lança The Voyage Out, o seu primeiro romance, em que tinha começado a trabalhar ainda antes de casar com Leonard Woolf. Dez anos mais tarde publica Mrs. Dalloway (o seu 4.º romance), que é ainda hoje aclamado como um dos livros mais importantes da autora britânica, abordando temas como feminismo, doença mental e homossexualidade na Inglaterra após a I Guerra Mundial.
Por falar em homossexualidade, convém referir que este foi um tema muito importante da literatura de Virginia Woolf. Em Orlando – Uma Biografia, a autora fala da sua relação lésbica com a aristocrata Vita Sackville-West, no final da década 20.
Ao longo da sua carreira, Virginia Woolf estabeleceu-se como escritora e intelectual, dando palestras regularmente em universidades e escolas. Ao lado de Leonard, fundou a editora Hogarth Press, onde publicou alguns dos seus contos, assim como obras de autores como T.S. Elliot. O seu talento para equilibrar cenas surrealistas com enredos profundos e complexos valeu-lhe imenso respeito entre os colegas escritores e aplausos do público em geral. O sucesso, no entanto, não foi cura para os esgotamentos nervosos e depressões que continuou a sofrer ao longo de toda a sua vida.
Em 1941, após ter trocado Londres por uma localidade mais sossegada, onde vivia com o marido Leonard, Virginia decide então tomar uma decisão e parar com o sofrimento que lhe assolava o espírito: escolheu terminar com a própria vida. Tal aconteceu na sequência de uma nova depressão, provocada pelo facto de estar de novo a “ouvir vozes”, como escreve nas suas cartas de sucídio e pelo clima de depressão provocado pela II Guerra Mundial, da qual resultou a destruição da Londres que tanto amava.
Após deixar duas cartas (uma dirigida ao marido e outra à irmã, Vanessa) a autora britânica dirigiu-se até às margens do rio Ouse e, enchendo os bolsos com pedras, entrou no rio e desapareceu entre as águas. O corpo foi encontrado pelas autoridades cerca de 3 semanas depois. Apesar dos seus livros perderem alguma popularidade após a II Guerra Mundial, os movimentos feministas dos anos 70 voltaram a trazer para as luzes da ribalta as histórias de Virginia Woolf, sendo considerada uma das autoras mais importantes da Literatura mundial.