Fiodor Dostoiévski: uma vida repleta de infortúnios
Estamos no ano de 1821, em plena Rússia moscovita, quando no dia 30 de outubro nasce um dos mais emblemáticos escritores de sempre da literatura mundial: Fiódor Dostoiévski. Era o segundo de sete filhos de uma família liderada pela mão forte do médico Mikhail Dostoiévski e da sua esposa Maria. Porém, a história do autor de Crime e Castigo não foi tranquila. A primeira tragédia aconteceu quando tinha cerca de 16 anos e a sua mãe faleceu subitamente, vítima de tuberculose.
Pouco depois, ainda em 1937, Fiódor decide mudar-se para St. Petersburgo para ingressar na Academia Militar de Engenharia. Durante os seus estudos, uma nova tragédia abate-se sobre a família Dostoiévski: o pai é assassinado pelos colonos da fazenda onde vivia e que o acusavam de maus tratos.
Entretanto, Dostoiévski aprende matemática e física e é introduzido à obra de grandes nomes da literatura, como William Shakespeare, Victor Hugo e Blaise Pascal. É assim que pega no papel e na caneta e começa a escrever algumas das suas primeiras histórias em forma de peças de teatro.
Os estudos são concluídos algures em 1843. Depois de ter adquirido patente militar, Fiodór Dostoiévski percebe que não vale a pena tentar abafar a sua vocação. Após a tradução bem-sucedida da obra Eugenia Grandet de Honoré de Balzac, o escritor russo desiste da engenharia e envereda inteiramente pela área da escrita. Estava longe de saber que a sua carreira sofreria uma pausa de dez anos.
Prisão, amores e apostas
Assumir-se como escritor de corpo e alma não bastava. Enquanto ia traduzindo algumas obras de autores franceses e ingleses, começava a escrever Gente Pobre, o seu romance de estreia que lhe valeu o título de “a mais nova revelação do cenário literário do país” por um dos críticos da época. Nas obras que se seguiram o talento pareceu esmorecer, pelo menos aos olhos dos especialistas. Títulos como O Duplo, Noites Brancas e Niétochka Nezvánova ficaram muito aquém do sucesso da primeira obra.
A acompanhar este declínio, um novo problema veio agravar a situação: Fiódor começou a sofrer de uma doença nervosa. Por esta altura, também se começou a virar-se para grupos socialistas que exaltavam a liberdade humana. É assim que acaba por ser preso e, eventualmente, conduzido a uma “falsa execução” traumática.
Por ordem do próprio Czar Nicolau I, o escritor e outros prisioneiros foram agrilhoados a um poste, prontos para ser fuzilados. Mais tarde, o autor russo deixou claro em memórias que naqueles minutos reviu toda a sua vida, acreditando que era realmente o fim. A execução, no entanto, era apenas uma punição psicológica: os prisioneiros foram poupados e enviados para uma prisão de trabalhos forçados.
Após a detenção e um exílio na Sibéria, regressa à Rússia em 1857. É por esta altura que se casa com Maria Dmitriévna Issáieva – que inspirou uma das personagens femininas mais emblemáticas de Crime e Castigo – e que era, pela altura do casamento, uma viúva recente, por quem Fiódor já se tinha apaixonado nos últimos anos da sua detenção, passados no Cazaquistão. Este não foi um casamento feliz e terminou uma vez mais em desgraça: a esposa de Dostoiévski morre, tal como a sua mãe, com tuberculose.
Apesar de estar de volta à escrita, Fiódor também se interessou pelo jogo. Além de perder fortunas em apostas e jogos de cartas, começou a endividar-se gravemente. Este lado mais obscuro da sua vida é retratado em O Jogador, uma das suas obras mais curtas, mas também das mais emblemáticas.
Ao ver-se de novo viúvo, volta a casar, desta vez com Anna Snitkina. Não se pode dizer que este tenha sido também um casamento feliz, uma vez que foi marcado pela saúde débil do autor, pelas dívidas que nem os seus livros conseguiam pagar e ainda a morte da sua primeira filha – que morreu com 3 meses de pneumonia.
O próprio escritor russo acabaria por morrer em 1881, aos 60 anos, vítima de uma hemorragia pulmonar que terá sido causada pelos seus sucessivos ataques epilépticos. A sua obra conta com 15 romances, que são ainda hoje aclamados como grandes clássicos da literatura.